Sequência didática: empoderamento feminino

Trabalhando a temática do empoderamento feminino através de charges

 

Autores:

Andréa Mendonça Cunha;

Cristiano dos Santos;

Joilda Alves de Oliveira;

Karolaine Nascimento dos Santos;

Kely de Carvalho Oliveira.

 

Apresentação

Está sequência didática é resultado da disciplina de Laboratório Para o Ensino de Língua Portuguesa I, do curso de Letras-Português da Universidade Federal de Sergipe, ministrada pela Profª. Drª. Márcia Regina Curado Pereira Mariano do DLI – Departamento de Letras de Itabaiana.

 

Introdução

De acordo com Marcuschi (2008), grande parte dos livros didáticos apresenta uma concepção de língua como simplesmente um código, como algo desconexo, fora da realidade social dos falantes. No entanto, o autor defende que a língua é um fenômeno social, cultural e cognitivo que sofre variações ao longo do tempo e de acordo com os usos. Um texto, por exemplo, pode carregar uma pluralidade de significações a depender do ambiente de divulgação, do público leitor, da sua cultura, do seu tempo, etc. Assim, não é possível que a escola trate o texto como um produto acabado, isolado em si. O texto interage com o leitor, e é a partir de inferências que o texto passa a significar. Portanto, faz-se necessário que a escola e os professores de Língua Portuguesa assumam um trabalho comprometido com a interpretação e a produção textual, orientando os alunos para que sejam leitores ativos, e não aquele que traz apenas respostas esperadas. Neste trabalho, visamos à produção de uma sequência didática que contemple conhecimentos acerca da gramática internalizada, explorando o texto para além de uma simples fonte de palavras e frases soltas. Assim, buscaremos trabalhar com o gênero discursivo charge com o objetivo de desenvolver competências para a interpretação e produção textual dos alunos.

Público-alvo: 8º ano do Ensino Fundamental.

Número de aulas: 4 aulas.

  • MOTIVAÇÃO

1ª Aula (50 min): introduzindo a temática

Na primeira aula, a professora distribui para os alunos a letra impressa da música “o rolê é nosso”, de Karol Conka, apresentando, ainda, o vídeo da música. E entrega também uma folha com algumas charges que tenham como tema o empoderamento feminino. Em grupo, os alunos podem debater os textos e, em seguida, discutir com os colegas e a professora.

Link para acesso ao vídeo: < https://www.youtube.com/watch?v=JTuVCj0l9iA>

Sugestão de charges:

aaa

https://goo.gl/Ym6rqv  

aaa2

https://goo.gl/716xVJ 

Sugestões de pontos que o professor (a) pode esclarecer no debate:

– Mostrar que o empoderamento trata-se de um movimento coletivo em prol de igualdade. Os objetivos podem ser os mais diversos: igualdade de gênero, racial, sexual, religiosa, etc.

-Ressaltar que o empoderamento feminino não deve ser uma luta que somente as mulheres devem aderir. Trata-se de uma luta de todos: homens, mulheres, crianças, adultos, branco, negro, etc.

-Instigar o aluno a relacionar a temática da música com as charges.

Objetivo geral

  • Proporcionar contato com gêneros discursivos diferentes que tratem da temática do empoderamento feminino;

Objetivos específicos

  • Propiciar o contato com os gêneros discursivos;
  • Debater a respeito do empoderamento, verificando se os alunos têm algum conhecimento a respeito do tema;
  • Desenvolver o senso crítico dos alunos.

 

2ª Aula (50mim): Debate em sala: “O que é o empoderamento feminino?”

No desenvolvimento da segunda aula, o professor (a) leva para a turma uma matéria da Carta Capital que tem como título: “O que é o empoderamento feminino?”, o texto foi escrito pela pesquisadora Djamila Ribeiro, e traz muitas questões sobre os porquês e a importância da mulher conquistar seu espaço e lutar por seus direitos. Sugerimos que a leitura seja feita na sala, com todos os alunos, fazendo pausas para destacar ideias centrais ou comentar pontos de destaque. Os alunos podem fazer perguntas ao longo da leitura e manifestar seu ponto de vista, o que caracteriza um debate mediado pelo texto. A matéria citada está em anexo nesta sequência.

Questões para estimular o debate paralelo à leitura:

  • Alguém já conhecia a palavra “empoderamento”? Qual o sentido dessa palavra pra vocês? E agora depois  da leitura dessa matéria?
  • É importante a mulher lutar por seu espaço na sociedade e buscar direitos iguais, por quê?
  • Vocês já ouviram falar sobre machismo? O que entendem dessa prática?

Objetivo geral

  • Conhecer e debater a questão do empoderamento feminino e suas implicações sociais.

Objetivos específicos

  • Estimular o debate em sala de aula;
  • Formação do pensamento crítico;
  • Conhecimento de temas sociais relevantes.

3ª Aula (50 min): Produção de texto: Elaboração de charges em sala de aula

Após apresentação e aprofundamento sobre o tema para os alunos, o professor (a) agora na terceira aula, leva diversas charges com os balões em branco. Divide a turma em grupos e entrega duas diferentes charges para cada um. Com o objetivo de que eles produzam a história e contextualizem com a temática, assim preencham os balões em branco. Essa atividade de produção visa que os alunos produzam ao menos duas charges completando os balões e a terceira deve ser livre, no desenho e no texto, ficando a critério do aluno a história e personagens.  Finalizada a produção de texto, os grupos  seguem os novo direcionamento do professor (a) na próxima aula.

Charges que podem ser levadas para os alunos:

1 2

3

Disponível em: < https://www.google.com.br/search?client=firefox-b&dcr=0&biw=1010&bih=474&tbm=isch&sa=1&ei=yKueWvLDDoOQwgT3xp7ACw&q=empoderamento+feminino+charges&oq=empoderamento+feminino+charges&gs_l:>

Objetivo geral

  • Praticar a produção de texto relacionado com o gênero textual que os alunos tiveram contato, observado se de fato eles compreenderam o tema abordado pelo professor.

Objetivos específicos

  • Instigar o humor e o lado crítico do aluno.
  • Analisar a forma de escrita;
  • Observar se os alunos estão atualizados com assuntos sociais.

 

4ª Aula (50min.): Aula de conclusão: Exposição dos trabalhos produzidos

De acordo com o que foi apresentado na sequência de aulas anteriores, sobre o empoderamento feminino e o gênero textual charge, o professor (a) agora, parte para uma aula dinâmica e expositiva. A aula de conclusão deve ser a confecção de um mural, aproveitando o material produzido pelos alunos, na aula anterior. Utilizando as charges que a turma produziu, para expor o trabalho da turma e levar a temática debatida para além dos limites de sua sala de aula. O mural deve ficar em um lugar de destaque na escola, para que todos possam observar o trabalho produzido pela turma. O professor (a) deve atentar para a coesão e ortografia do que for produzido antes de expor.

Sugestões de murais:

1

2.png

Disponível em: < https://www.google.com.br/search?tbm=isch&q=mural+com+charges&gws_rd=cr&dcr=0&ei=BOqeWraiBJL_zgLi24WgCA

 

Objetivo geral:

  • Proporcionar a produção textual explorando o trabalho coletivo e valorizar o que foi produzido.

Objetivos específicos:

  • Estabelecer relação entre os conhecimentos apreendidos em sala de aula;
  • Instigar a criticidade.

 

 

REFERÊNCIAS:

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Editora: Contexto, 2009.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

MENDONÇA, Mariana Célia. “Língua e Ensino: políticas de fechamento” In: MUSSALIM, Anna Christina Bentes (orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 5ª Ed. Cortez, 2006. p. 233-262.

 

ANEXOS

Anexo 1 – Matéria Carta Capital

O que é o empoderamento feminino?

por Djamila Ribeiro — publicado 25/09/2017 00h33, última modificação 22/09/2017 09h37

Nenhuma mulher pode considerar-se moderna enquanto persistirem as desigualdades

O termo empoderamento muitas vezes é mal interpretado. Por vezes é entendido como algo individual ou a tomada de poder para se perpetuarem as opressões. Para o feminismo negro, empoderamento possui um significado coletivo. Trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres como sujeitos ativos de mudança.

Como diz bell hooks (nascida Gloria Watkins e que adotou o nome de sua bisavó e pede que o usem assim em minúsculo), o empoderamento diz respeito a mudanças sociais numa perspectiva antirracista, antielitista e antissexista por meio das mudanças das instituições sociais e consciência individuais.

Para hooks é necessário criar estratégias de empoderamento no cotidiano, em nossas experiências habituais no sentido de reivindicar nosso direito à humanidade.

Logo, o empoderamento sob essa perspectiva significa o comprometimento com a luta pela equidade. Não é a causa de um indivíduo de forma isolada, mas como ele promove o fortalecimento de outras mulheres com o objetivo de alcançar uma sociedade mais justa para as mulheres.
É perceber que uma conquista individual de uma mulher não pode estar descolada da análise política.

O empoderamento não pode ser algo autocentrado, parte de uma visão liberal, ou ser somente a transferência de poder. Vai além. Significa ter consciência dos problemas que nos afligem e criar mecanismos para combatê-los. Quando uma mulher empodera a si, tem condições de empoderar a outras.
Cada mulher em seu espaço de atuação pode criar formas de empoderar outras. Se for empregadora, pode criar um ambiente de trabalho no qual exista o respeito e que possa atender à demanda de mulheres, principalmente daquelas que são mães, e certificar-se de que não há desigualdade salarial e assédio.
Se é professora, estar atenta aos xingamentos machistas muitas vezes naturalizados como brincadeiras ou chacotas. Tentar promover discussões em salas de aula que tragam a reflexão sobre a situação das mulheres. Criar um grupo na comunidade ou associação do bairro para discutir estratégias de apoio a outras mulheres ou o enfrentamento à violência que possam vir a sofrer.
Significa uma ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões, de consciência social dos direitos sociais. Essa consciência ultrapassa a tomada de iniciativa individual de conhecimento e superação de uma realidade na qual se encontra. É uma nova concepção de poder que produz resultados democráticos e coletivos.
É promover uma mudança numa sociedade dominada pelos homens e fornecer outras possibilidades de existência e comunidade. É enfrentar a naturalização das relações de poder desiguais entre homens e mulheres e lutar por um olhar que vise a igualdade e o confronto com os privilégios que essas relações destinam aos homens. A busca pelo direito à autonomia por suas escolhas, por seu corpo e sexualidade.

Não é emancipação iludir-se com as novas tecnologias, enquanto persiste a divisão sexual do trabalho, enquanto o eterno feminino se impõe. E, muito menos, seguir em uma lógica de exclusão com outros grupos. Nesse sentido, é preciso cuidar para que conceitos e ferramentas políticas pensadas por feministas diversas não sejam esvaziados de sentido.

Atentar-se para o interesse de marcas com a questão e que, na maioria das vezes, é superficial e temporário. Logo, é fundamental questionar as marcas que se envolvem com o tema, confirmar se existe política de diversidade na empresa, se existem programas para mulheres que são mães para além da camiseta com a frase “girl power”.

Obviamente existe uma relação dialética: o interesse maior por essas pautas deriva da longa história de mobilização dos movimentos, que deram visibilidade a questões extremamente importantes e entenderam que trazer à tona alguns problemas seria o primeiro passo para a dignidade de certos grupos.
É preciso nomear, nos ensinaram as feministas negras. Portanto, há que se cuidar para não haver apropriação puramente mercadológica e deixar de produzir mudanças reais. Em outras palavras, é urgente pensar para além da representatividade, que inegavelmente é importante, mas possui limites.

De volta a Simone de Beauvoir: precisamos discutir a partir da experiência vivida, da concretude. Enquanto persistirem as desigualdades e as imposições de papéis sociais, não será possível considerar nenhuma mulher moderna, por mais que ela tenha o último modelo de smartphone, produzido na lógica capitalista de exploração. Não se pode aceitar que o progresso seja entendido como a manutenção de desigualdades para o benefício de um grupo social.

Pensar feminismos é pensar projetos. É discutir um outro modelo de sociedade pautado por novos marcos civilizatórios. Essa é a utopia pensada por Angela Davis e que precisamos percorrer.