Plano de Aula – Violência contra a mulher

 

PLANO DE AULA 

Autores:

 Edinando Vieira Reis

Eliezer Santana Júnior.

Estrutura curricular: 2º ano do Ensino médio.

Componente curricular: Língua Portuguesa – Produção de texto.

Esta sequência didática visa o trabalho com os gêneros textuais. Chamaremos de tais, as diferentes formas de linguagem empregadas no texto. Podemos dizer que o gênero textual organiza as várias situações comunicativas da língua em uso, sendo ele um meio de efetivação para atividades sociais.

Nesta sequência, o gênero utilizado é cartaz. Esse gênero possui como característica as funções informativas e apelativas, servindo para informar e persuadir. Entre os diversos gêneros textuais que são utilizados para transmitir mensagens, o cartaz é um dos mais comuns, uma vez que nos deparamos diariamente com ele. É um gênero escrito e, quanto aos seus recursos linguísticos, possui uma linguagem sintética e objetiva, contendo todas as informações precisas para que se alcancem os propósitos esperados por meio do discurso.

O tipo textual mais predominante nesse gênero textual é o expositivo, uma vez que o cartaz possui a finalidade de apresentar informações, e o injuntivo, pois tem como objetivo instruir e orientar o leitor, utilizando-se de verbos no imperativo, infinitivo ou presente do indicativo.

Tema: A exploração do gênero cartaz e a produção do mesmo em âmbito escolar, tendo como reflexão o silêncio em denunciar a violência contra a mulher.

Objetivo Geral: Fazer com que o aluno identifique o gênero cartaz em estrutura, características e regularidades. Que ele reconheça a importância do gênero para nossa sociedade, tendo como reflexões, discussões sobre o medo que há em denunciar a violência contra a mulher.

Estratégia e recurso da aula:

  • Trabalho em grupo;
  • Discussão sobre o gênero e a temática, sendo ela oral e coletiva;
  • Construção coletiva de conceitos sobre o gênero e a temática;
  • Produção do gênero cartaz, para que seja apresentado na escola a outras turmas e comunidade, no mês ou Dia Internacional da Mulher;
  • A utilização do laboratório de informática e xerocópias;
  • Data show;
  • Material para produção do cartaz.

Duração das atividades: 4 aulas de 50 mim.

1ª Aula:

Em primeiro momento, provoque a discussão sobre o gênero cartaz publicitário, com a intenção de buscar o conhecimento prévio que os alunos têm sobre o gênero destacado e a temática que será abordada durante a aula. Favorece a oralidade e o pensamento crítico.

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Discussão após a apresentação dos cartazes

O educador e toda a turma irão analisar os cartazes em estudo. Para isso, faça algumas perguntas aos alunados, com a intenção provocativa para enriquecer o debate.

  1. O cartaz é um gênero textual marcado especialmente pela função informativa, bem como pela função apelativa. Tais funções têm a intenção de convencer ou conscientizar alguém sobre determinado assunto. Em sua opinião, qual o objetivo desses cartazes?
  2. Que tipo de pessoa ou público esses cartazes querem convencer ou conscientizar?
  3. Os cartazes geralmente apresentam linguagem visual e verbal. Quanto aos cartazes em estudo, qual a relação existente entre a ilustração e o texto verbal?
  4. Geralmente, os textos verbais exibidos em cartazes são curtos, com uma formação linguística simples, porém direta. A maioria desses enunciados expostos nos cartazes têm termos de comando, com ambiguidade e verbos no modo imperativo. O que podemos identificar nas imagens em estudo?

Obs.: A partir das respostas dadas pelos alunos, ajude-os para que alcancem quais são as principais características do gênero abordado.

2ª Aula:

O docente levará os alunos à sala de áudio e vídeo, com o propósito de assistirem um vídeo da música “Rosas”, da banda “Atitude feminina”.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=JP5RSDwUg6E

Em seguida, analisarão a letra da música, com a ajuda do professor.

“A cada quinze segundos uma mulher é agredida no Brasil

E a realidade não é nem um pouco cor-de-rosa

A cada ano, dois milhões de mulheres são espancadas

Por maridos ou namorados.”

 

Hoje meu amor veio me visitar

E trouxe rosas para me alegrar

E com lágrimas pede pra eu voltar

Hoje o perfume eu não sinto mais

Meu amor já não me bate mais

Infelizmente eu descanso em paz!

 

Tudo era lindo no começo, lembra?

Das coisas que me falou que era bom, sedução

Uma história de amor, vários planos, desejo, ilusão

E daí? Não tinha nada a perder, queria sair dali

No lugar onde eu morava me sentia tão só

Aquele cheiro de maconha e o barulho de dominó

A molecada brincava na rua e eu cheia de esperança

De encontrar no futuro a paz, sem tiroteio, vingança

E ele veio como quem não quisesse nada

Me deu um beijo e me deixou na porta de casa

Os meus olhos brilhavam, estava apaixonada!

“Deixa de ser criança!” – a minha mãe falava

Que “no começo tudo é festa” e eu ignorava

Deixa eu viver meu futuro, Zipá

Muda nada, menina boba, iludida, sabe de nada da vida

Uma proposta, ambição de ter uma família

Entreguei até a alma e ele não merecia

O meu pai embriagado, nem lembrava da filha

O meu príncipe encantado, meu ator principal

Me chamava de “filé” e eu achava legal

No começo tudo é festa, sempre é bom lembrar!

Hoje estou feliz, o meu amor veio me visitar

 

Hoje meu amor veio me visitar

E trouxe rosas para me alegrar

E com lágrimas pede pra eu voltar

Hoje o perfume eu não sinto mais

Meu amor já não me bate mais

Infelizmente eu descanso em paz!

 

Numa atitude impensada, sai de casa pra ser feliz

Não dever satisfação, ser dona do meu nariz

Não aguentava mais ver a minha mãe sofredora

Levar porrada do meu pai embriagado e à toa

Meu irmão se envolvendo com as paradas erradas:

Cocaína, maconha, 157, armas

Eu estava feliz no meu lar doce lar

Sua roupa, olha só, tinha prazer de lavar

Mas “alegria de pobre dura pouco”, diz o ditado

Ele ficou diferente, agressivo, irritado

Chegava tarde da rua, aquele bafo de pinga

Batom na camisa e cheiro de rapariga

Nem um ano de casado, ajuntado, sei lá

Não sei pra que cerimônia, o importante é amar

Amor de tolo, amor de louco, o que foi que aconteceu?

Me mandou calar a boca e não me respondeu

Insisti, foi mal, ele me bateu

No outro dia me falou que se arrependeu

Quem era eu pra julgar? Queria perdoar

Hoje estou feliz o meu amor veio me visitar

 

“Eu tava a quatro meses grávida

Ele me deu uma surra tão violenta que eu cai, desmaiei

Aí quando eu acordei eu tava numa poça de sangue, assim

Que tinha saído da minha boca e do meu rosto

Ele me catou assim pelos meus cabelos

Me puxou e falou: Você vai morrer!”

 

Hoje o perfume eu não sinto mais

Meu amor já não me bate mais

Infelizmente eu descanso em paz

 

Quase dois anos e a rotina parecia um inferno

Que saudade da minha mãe, desisti do colégio

A noite chega, madrugada e meu amor não vinha

Quanto mais demorava, preocupada, mais eu temia

Não estava aguentando aquela situação

Mas hoje tudo vai mudar, ele querendo ou não

Deus havia me escutado há uns dois meses atrás

Aquele filho na barriga era esperança de paz

Tantos conselhos me deram, de nada adiantou

Era a mulher mais feliz, o meu amor chegou

Que pena! Novamente embriagado

Aquele cheiro de maconha, inconfundível, é claro

Tentei acalma-lo, ele ficou irritado

Começou a quebrar tudo loucamente, lombrado

Eu falei que estava grávida, ele não me escutou

Me bateu novamente, mas dessa vez não parou

Vários socos na barriga, lá se vai a esperança

O sangue escorre no chão, perdi a minha criança

Aquele monstro que um dia prometeu me amar

Parecia incontrolável, eu não pude evitar

Talvez se eu tivesse o denunciado

Talvez se eu tivesse o deixado de lado

Agora é tarde, na cama do hospital

Hemorragia interna, o meu estado era mau

O sonho havia acabado e os batimentos também

A esperança se foi pra todo sempre, amém!

Hoje meu amor implora pra eu voltar

Ajoelhado, chorando, infelizmente não dá

Agora estou feliz, ele veio me visitar

É dia de finados, muito tarde pra chorar

 

Hoje meu amor veio me visitar

E trouxe rosas para me alegrar

E com lágrimas pede pra eu voltar

Hoje o perfume eu não sinto mais

Meu amor já não me bate mais

Infelizmente eu descanso em paz!

 

“É muito importante que o limite seja posto pela mulher

Não vou aceitar uma situação de violência dentro da minha casa!”

Fonte: https://www.letras.mus.br/atitude-feminina/487433/

Questões para nortear a discussão.  

  1. Você acha que a música traz uma questão social. Por quê?
  2. O que se passa na letra da música?
  3. Em que ambiente acontece a estória?
  4. Como ela era tratada pelo companheiro?
  5. Na estória, a mulher tem um final feliz ou triste? Por quê?

Sugestão: Para um maior enriquecimento dos alunos sobre o assunto, o professor poderá convidar um licenciado em história, pois o mesmo explicará todo o processo histórico de submissão e o tratamento como objeto que a mulher sofreu e sofre.

3ª Aula:

Leve os alunos à sala de informática para iniciarem a pesquisa. Primeiramente, irão pesquisar mais cartazes, para que tenham mais contato com o gênero e percebam a sua estrutura. Em seguida, pesquisarão sobre verbos no modo imperativo. Depois, identificarão nos cartazes estudados os verbos que estão nesse modo, buscando sempre entender o seu sentido. Então, os alunos farão uma outra pesquisa, buscando investigar sobre o motivo que leva a mulher a ficar em silêncio, mesmo sendo tratada de forma agressiva e abusiva.

Dica: Na falta da sala de informática, os alunos poderão levar livros, revistas e jornais que explorem o tema.

4ª Aula:

Separando a turma em grupos, o professor irá direcionar os alunos a produzirem seus próprios cartazes, informando-os que o público-alvo será os seus colegas de outras séries, a equipe de educadores da instituição e toda comunidade, pois será exposto no mural da escola e apresentados. Para a confecção desse gênero, o professor de Língua Portuguesa poderá contar com a ajuda do professor de Artes. Os grupos serão lembrados que procurem fazer um texto curto e objetivo e que seja de forte impacto, levando o leitor a refletir sobre a questão colocada no cartaz (violência doméstica: os possíveis agressores, conscientização da mulher sobre a denúncia, etc.), dando instruções com vistas a persuadir o interlocutor, usando verbos no imperativo (vamos, corra, pegue, faça, pense, acredite, respeite, ame, aceite, reflita, etc.). Diante disso, eles terão que utilizar uma linguagem de acordo com a norma padrão, menos ou mais formal, simples e direta e acessível ao perfil do público leitor. Já confeccionados, serão apresentados a toda comunidade junto com uma palestra no dia (25/11) “dia internacional de luta contra a violência à mulher”. Diante disso, o professor de Língua Portuguesa terá a possibilidade de convidar um advogado especialista no caso para enriquecer a palestra.

Referências:

 Disponível em: <http://www.infoescola.com/literatura/generos-textuais/&gt;. Acesso em: 12 Fev. 2017.

Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/o-cartaz-como-genero-textual/&gt;. Acesso em: 12 Fev. 2017.

Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=51381&gt;. Acesso em: 12 Fev. 2017.

Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/um-genero-textual-informativocartaz.htm&gt;. Acesso em: 12 Fev. 2017.

 

Sequência Didática – Preconceito Racial

DESVELANDO O TERMO “PIXAIM” EM SALA DE AULA 

Autoras:

Daynara Lorena Aragão Côrtes

Iasmim Santos Ferreira

Amparo teórico e fundamentação da Sequência Didática: 

            Embasamo-nos nos estudos de Rildo Cosson (2011) como modelo de sequência didática, visto que o gênero textual abordado é o literário. Temos por objetivo desvelar o termo ‘pixaim’ em sala de aula, bem como norteamos este trabalho a partir da perspectiva de que a literatura tem um papel de grande complexidade, sobretudo a sua função humanizadora, sendo uma construção de objetos autônomos como estrutura e significado; uma forma de expressão, “e uma forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente” (CANDIDO, 2011, p. 179). Assim, o texto literário não só sensibiliza, mas também tem caráter pedagógico, como é observado desde a Grécia Antiga na Arte Poética de Aristóteles.

Não obstante, para se chegar ao conto “Pixaim”, da escritora Cristiane Sobral, os (as) alunos (as) terão contato com outros gêneros textuais que são de suma importância para sua compreensão e produção, mas que nesta sequência serão utilizados somente sob a primeira perspectiva: a da compreensão. Como aporte teórico e metodológico para este uso, os estudos de Marcuschi (2008) foram essenciais. Tendo como objetivos norteadores desta sequência um passo de desconstrução do preconceito racial imerso na sociedade brasileira, sendo a sala de aula um local privilegiado para a manutenção de estereótipos ou para o desvelo das problemáticas sociais, a fim de formar um senso crítico mais aguçado em nossos (as) alunos (as).

Desse modo, afirmamos ser um passo de desconstrução, pois não se pode acreditar de forma idealizada que somente esta sequência seja suficiente para sanar problemáticas sociais, nesse caso: o racismo; mas que a educação é feita por profissionais conscientes do papel de educador e instigados pelo desejo de real mudança, fazem o chamado “trabalho de formiguinha” e colhem os frutos disso. Levar os (as) alunos (as) a refletirem sobre o termo ‘pixaim’, tão utilizado para qualificar o cabelo crespo como ruim, é trazer o desvelo do que está por trás do uso pejorativo dessa palavra. Quais as questões históricas, sociais e culturais envolvem a manutenção desse preconceito? É preciso sensibilizar a turma através dos diversos gêneros textuais, nesse caso utilizamos o conto, a fim de despertar uma postura crítica e uma aceitação da identidade racial dos (as) alunos (as) negros (as). Por fim, enfatizamos o papel da escola na desconstrução do preconceito.

Tratar da diversidade cultural brasileira num contexto geográfico, visando, portanto, reconhecer, valorizar e superar a discriminação aqui existente, é ter uma atuação sobre um dos mecanismos estruturais da exclusão social, componente básico para caminhar na direção de uma sociedade mais democrática, na qual os afro-descendentes se sintam e sejam brasileiros. (MUNANGA, 2005, p. 177).

SEQUÊNCIA DIDÁTICA 

Público-alvo: 5º e 6º anos do Ensino Fundamental.

Número de aulas: 8 aulas de 50min.

  1. MOTIVAÇÃO

1ª aula: Coletar imagens de mulheres negras.

Solicitar aos (às) alunos (as) que coletem imagens de mulheres negras em jornais, revistas, sites, livros, etc. Eles (as) deverão levar as imagens para a sala de aula em vistas de discutir quais mulheres têm seus cabelos em estado natural e quais aderiram ao processo químico de alisamento, conhecido como “chapinha”. Sendo assim, observar o quantitativo desses dados, se há mais mulheres no primeiro ou no segundo estado.

Materiais:

  • Tesoura, cola, cartolina, papel A4, data show e computador.

Objetivos:

  • Fazer com que os (as) alunos (as) observem a representatividade negra nas diversas mídias.
  • Levá-los a perceber a valorização ou a depreciação do cabelo crespo, considerado como ruim/pixaim.
  • Proporcionar uma discussão acerca dos valores sociais, sobretudo o conceito de belo.

2ª aula: Exposição de um vídeo.

Nesta segunda aula, reserve a primeira parte para exibição do vídeo “Cabelo crespo não é cabelo ruim”, da youtuber Ana Lídia Lopes, em que ela discursa a respeito do conceito pejorativo atribuído aos cabelos crespos e/ou encaracolados. O vídeo tem 5min. e 16 seg., por esse motivo, sobrará tempo para provocar nos (as) alunos (as) a argumentação através da compreensão do que foi passado. Desse modo, promova um debate e instigue-os (as) a se colocarem em face dos outros para motivá-los (as), pretendendo manter a atenção dos (as) alunos (as), evitando que fiquem dispersos ou se sintam embaraçados quanto ao posicionamento crítico.

Referência do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=tYoTcWOaMl0.

Materiais:

  • Computador, data show, caixa de som e dicionário.

Objetivos:

  • Trazer para sala de aula materiais diversos, além do livro didático;
  • Promover o posicionamento crítico;
  • Desmistificar o preconceito racial embutido em termos pejorativos ligados ao cabelo crespo e/ou encaracolado.
  1. INTRODUÇÃO

3ª aula: Levantamento das duas aulas anteriores.

Nesta terceira aula, colete as impressões obtidas pelos (as) alunos (as). Professor (a), aborde em seu discurso partes relevantes do vídeo e da primeira atividade proposta para que, assim, se obtenha a consciência da falta de representatividade e, sobretudo, dos títulos pejorativos destinados à comunidade étnica negra como um reforço do preconceito racial tão velado em nosso país. Depois disso, repita o exercício de manuseio do dicionário, conforme posto na parte inicial do vídeo, através da procura do significado da palavra ‘pixaim’.

Materiais:

  • Somente o dicionário.

Objetivos:

  • Fazer um levantamento do que os (as) alunos (as) compreenderam das atividades anteriores;
  • Ensinar aos alunos (as) a manusearem o dicionário.

Obs.: Explicação do termo em anexo.

  1. DESENVOLVIMENTO

4ª aula: Leitura do conto “Pixaim”, de Cristiane Sobral.

Como na aula anterior já foi introduzido o conceito atribuído à palavra ‘pixaim’, há suporte para inserir a leitura do conto da escritora brasileira Cristiane Sobral. Nesse momento, promova uma leitura feita pela turma em conjunto. Organize-os em pequenos grupos e fracione a participação na decodificação do texto literário. Como o conto é curto e é preciso que haja a participação de todos (as), recorte as passagens em pequenas partes e analise a desenvoltura dos (as) alunos (as) na leitura e entonação de voz, no discurso direto e, sobretudo, indireto, pois este é predominante.

Obs.: Conto em anexo.

Materiais:

  • Várias impressões do conto.

Objetivos:

  • Iniciar a leitura do conto “Pixaim” de Cristiane Sobral;
  • Promover a interação entre a turma;
  • Articular um momento prazeroso para a leitura.
  1. INTERPRETAÇÃO

5ª aula: Interpretação do texto literário trabalhado.

Esta aula equivale à etapa mais importante, pois é nesse momento que o (a) professor (a) identificará possíveis dificuldades de ligação do texto escrito com a contextualização desse conhecimento trazido através da leitura. Possivelmente, haverá alguns questionamentos acerca do desfecho, pois há uma abertura do encaminhamento final da personagem protagonista, sendo ela uma representante política. Sendo assim, atente-os (as) para a importância da representatividade em diversos âmbitos da sociedade, como observado na revista, e exiba a importância da presença negra na política também.

Materiais:

  • Nesta aula não será preciso nenhum utensílio.

Objetivos:

  • Inserir a temática promovida pelas exigências da lei 10.639/03 em sala através do texto literário;
  • Promover debate acerca do conto;
  • Estimular a iniciativa de desconstrução do preconceito racial.

Dica: É importante que o (a) professor (a) fale brevemente acerca da escritora contemporânea, Cristiane Sobral, sendo esta uma artista engajada e de uma relevante produção em nosso país.

Obs.: Biografia da autora em anexo.

6ª aula: Aplicação de um questionário.

Como continuidade da sequência, reserve nessa sexta aula um tempo específico para passar um questionário que os (as) alunos (as) aplicarão em sua comunidade e/ou seu âmbito familiar. Explique as intenções que nortearam essa atividade e mostre a importância do gênero como uma estrutura capaz de fundir a linguagem oral e escrita. O trabalho com a língua não exclui a possibilidade de abordar variadas questões temáticas, pelo contrário, é uma ferramenta crucial na participação e construção da sociedade.

Materiais:

  • Questionário em anexo.

 Objetivos:

  • Desenvolver uma pesquisa de campo;
  • A partir do questionário, saber o que motivou as pessoas entrevistadas a usarem o cabelo de determinado modo (natural, com procedimentos químicos ou em transição);
  • Trabalhar a linguagem escrita e oral dos (as) alunos (as).

Obs.: Questionário em anexo.

7ª aula: Coleta dos questionários.

Na sétima aula, peça para que os (as) alunos (as) apresentem os respectivos questionários com as respostas adquiridas. Motive-os a dizer possíveis dificuldades e impressões obtidas fora do ambiente escolar.

Materiais:

  • Não será preciso nenhum utensílio.

Objetivos:

  • Averiguar os dados levantados pelos (as) alunos (as) na aplicação do questionário;
  • Desencadear uma discussão correlacionando o conto com os resultados obtidos no questionário;
  • Promover o posicionamento crítico.

Dica: Professor (a), organize-os (as) em círculo e peça que cada aluno (a) se coloque em face da turma na posição de um (a) palestrante. Esse exercício de posicionamento corporal é importante porque ajuda-o (a) a entender que os nossos movimentos revelam aspectos importantes da personalidade. A afirmação da linguagem corporal segura é fundamental para adesão do interlocutor, por isso, ajude-os (as) a desenvolver o espírito de autoconfiança e, até onde puder, de liderança.

  1. CONCLUSÃO

8ª aula: Fechamento da sequência didática.

Como encerramento das atividades propostas nas aulas anteriores, reproduza o vídeo “Mc Soffia part. Gram & Pedro Angeli – Minha Rapunzel de Dread [Teaser]”, presente no canal da cantora MC Soffia. Neste material há uma forte crítica a falta de representatividade negra no universo infantil, em especial, na literatura infanto-juvenil. A artista traz para o seu discurso a desconstrução da princesa Rapunzel e propõe uma princesa real, a graciosa negra rastafári. Depois disso, peça que os (as) alunos (as) compartilhem suas experiências, enquanto pesquisadores, de modo a focar na temática explorada.

Referência do vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=3ut5RVtO3H4&gt;.

Materiais:

  • Computador, datashow e caixa de som.

Objetivos:

  • Apresentar de forma lúdica a importância da representatividade negra;
  • Fomentar nos (as) alunos (as) a postura de pesquisador aliado ao senso crítico;
  • Promover o debate.

 

REFERÊNCIAS:

AULETE. C. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2011.

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ______. Vários escritos. 3º Ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995, pp, 171-193.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2ª Ed.,1ª reimp. São Paulo: Contexto, 2011.

LOPES, Ana Lídia. Ana Lídia Lopes: Cabelo crespo não é cabelo ruim. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tYoTcWOaMl0&gt;. Acesso em: 08 fev. 2017.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. 2ª Ed. ver. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

SOBRAL, Cristiane. Pixaim. Disponível em: <https://cristianesobral.blogspot.com.br/2011/01/pixaim-conto-de-cristiane-sobral.html&gt;. Acesso em: 08 fev. 2017.

SOFFIA. MCSoffiaVEVO: Minha Rapunzel tem Dread. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3ut5RVtO3H4&gt;. Acesso em: 08 out. 2016.

ANEXOS

ANEXO 1: Conto “Pixaim”, de Cristiane Sobral

Rio de Janeiro. Qualquer dia da semana num tempo que passa morno, sem novidades. Num bairro distante no subúrbio da zona oeste, uma criança negra de dez anos e pequenos olhos castanho-escuros meio embaçados pelo horizonte sem perspectivas é acusada injustamente. Em meio ao espanto, descobre que existem pessoas descontentes com a sua maneira de ser e decide lutar para manter intactas as suas raízes.
Os ataques começaram quando fui apresentada a uns pentes estranhos, incrivelmente frágeis, de dentes finos, logo quebrados entre as minhas madeixas acinzentadas. Pela primeira vez ouço a expressão cabelo “ruim”. Depois uma vizinha disse a minha mãe, que todos os dias lutava para me pentear e me deixar bonitinha como as outras crianças, que tinha uma solução para amolecer a minha carapinha “dura”.
Pela primeira vez foram violentadas as minhas raízes, senti muita dor, e fiquei frágil, mas adquiri também uma estranha capacidade de regeneração e de ter idéias próprias. Eu sabia que não era igual às outras crianças. E que não podia ser tratada da mesma forma. Mas como dizer isso aos outros? Minha mãe me amava muito, é verdade, mas não percebia como lidar com as nossas diferenças.
Eu cresci muito rapidamente, e para satisfazer aos padrões estéticos não podia mais usar o cabelo redondinho do jeito que eu mais gostava, pois era só lavar e ele ficava todo fofinho, parecendo algodão. Uma amiga negra que eu tinha costumava amarrar uma toalha na cabeça, e andar pela casa, fingindo que tinha cabelo liso e dizia que o sonho dela era ter nascido branca. Eu achava estranho. Não percebia como alguém poderia ser algo além daquilo que é.
Minha mãe decidiu que o meu pixainho tinha que crescer e aparecer. Lembro do pente quente que se usava na época, para fazer o crespo ficar “bom”, e da marca do pente quente que tatuou meu ombro esquerdo, por resistir àquela imposta transformação. Era domingo, íamos todos a uma festa, e eu tinha que ficar bonita como as outras. No caminho, caiu uma chuva, dessas de verão, e em poucos minutos, houve o milagre, pois a água anulou o efeito do pente. Eu chorava porque achava que o meu cabelo nunca voltaria ao normal, e minha mãe ficou brava porque eu estava parecendo comigo, de um jeito nunca antes visto!
Por um tempo tive paz. Fazia o que bem entendia com meus fios, mas sabia que algo estava sendo preparado. A tal vizinha apareceu lá em casa dizendo que viajaria por uns dias, mas que quando voltasse traria um produto para dar jeito no meu rebelde. Lamentava o fato de que eu não era tão escurinha, mas tinha um bombrilzinho! Dormi com medo. Sonhei com uma família toda pretinha e com uma vó que me fizesse tranças como aquelas que eu vi numa revista, cheias de desenhos na cabeça, coisa que só a minha carapinha permitia fazer… Mas minha mãe não sabia nada dessas coisas…
O henê era um creme preto muito usado pelas negras no subúrbio do Rio de Janeiro, que alisava e tingia os crespos. A propaganda da embalagem mostrava uma foto de uma mulher negra sorridente com as melenas lisas. Só que o efeito do produto não era eterno, logo que crescesse um cabelinho novo, era necessário reaplicar o creme, dormir com bobies, fazer touca, e outras ações destinadas a converter o cabelo “ruim”, em “bom”. O produto era passado na cabeça bem quente e mole, mas quando esfriava endurecia. Uma hora depois, a cabeça era lavada com água fria em abundância até a sua total eliminação.
Jamais esquecerei a minha primeira sessão de tortura. Era um bonito dia de sol e céu azuladíssimo. Eu brincava no quintal distraída quando ouvi o chamado grave de minha mãe, já com a panela quente nas mãos, e pensei com pavor na foto da mulher com cabelo alisado. Nesse momento tive a certeza de que mamãe queria me embranquecer! Era a tentativa de extinção do meu valor! Chorei, tentei fugir e fui capturada e premiada com chibatadas de vara de marmelo nos braços. Fim da tentativa inútil de libertação. Sentei e deixei o henê escorrer pelo pescoço enquanto gelava por dentro, até sentir a lâmina fria da água gelada do tanque de concreto penetrando em meu couro cabeludo. Depois, já era tarde, minha mãe encheu minha cabeça de bobies. Segui inerte. Chorei insone aprisionada pelos bobies amarrados na cabeça, sentindo uma imensa dor e o latejar dos grampos apertados.
Dia seguinte. Minha mãe me chamou inesperadamente carinhosa e me colocou frente ao espelho. Pela primeira vez disse:
– Você está bonita! Pode brincar, mas não pule muito para não transpirar e encolher o cabelinho.
Eu olhei e não acreditei. Já tinha a expressão da mulher da caixa de henê. Chorei pela última vez e jurei que não choraria mais. Porque era tão difícil me aceitar? Dei adeus aquilo que jamais consegui ser, me despedi silenciosamente da menina obediente, e comecei a me transformar.
Os vizinhos ficaram felizes com a confirmação da profecia. Diziam que preto não prestava mesmo. Todo mundo se sentia no direito de me dar uns tapas, para me corrigir, para o meu bem. Eu era tudo de péssimo, ingrata, desgosto da mãe, má, bruxa. Meus irmãos também colaboravam me chamando de feia, bombril, macaca. Era o fim.
Eu já não resistia e comecei a acreditar no que diziam. Todos os dias eram tristes e eu tinha a certeza de que apesar do cabelo circunstancialmente “bom”, eu jamais seria branca. Foi aí que eu tive uma inesperada luz. Minha mãe queria me embranquecer para que eu sobrevivesse a cruel discriminação de ser o tempo todo rejeitada por ser diferente. Percebi subitamente que ela jamais pensara na dificuldade de ter uma criança negra, mesmo tento casado com um homem negro, porque que ela e meu pai tiveram três filhos mestiços que não demonstravam a menor necessidade de serem negros. Eu era a ovelha mais negra, rebelde por excelência, a mais escura e a que tinha o cabelo “pior”. Às vezes eu acreditava mesmo que o meu nome verdadeiro era pixaim.
O negro sempre foi para mim o desconhecido, a fantasia, o desejo. Cresci tentando ser algo que eu não conhecia, mas que intuitivamente sabia ser meu, só meu. O meu cabelo era a carapaça das minhas idéias, o invólucro dos meus sonhos, a moldura dos meus pensamentos mais coloridos. Foi a partir do meu pixaim percebi todo um conjunto de posturas que apontavam para a necessidade que a sociedade tinha de me enquadrar num padrão de beleza, de pensamento e opção de vida.
Quinze anos depois, em Brasília, no coração do planalto central, é segunda-feira, dia de começos. Uma mulher madura de olhar doce e fértil vê sua imagem no espelho e ajeita com cuidado as tranças corridas, contemplando com satisfação a história escrita em seu rosto e a beleza que os pensamentos dignos conferem à sua expressão. É uma mulher livre, vencedora de muitas batalhas interiores, que se prepara para a vida lutando para preservar a sua origem, pois sabe que é a única herança verdadeira que possui. Ela aprendeu e jamais esquecerá. A gente só pode ser aquilo que é.

ANEXO 2: Significado do termo Pixaim

“Diz-se de ou cabelo muito crespo; CARAPINHA”.

(Minidicionário Caldas Aulete, 2011, p. 681).

ANEXO 3: Questionário

  1. Você se considera negra (o)?
  1. Utiliza ou já utilizou algum procedimento químico em seu cabelo?
  1. Qual mulher ou homem você tem como padrão de beleza?
  1. Qual a referência de beleza negra feminina que você tem?
  1. Você considera ou já foi chamada de cabelo de Pixaim?

(Em caso de ter deixado de usar chapinha)

  1. O que motivou a sua mudança?

ANEXO 4: Biografia da autora do conto “Pixaim”, Cristiane Sobral 

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Cristiane Sobral é escritora, poetisa, atriz, professora e diretora de teatro. Mestre em Artes (UNB) e membro da Academia de Letras do Brasil – ALB, ocupando a cadeira 34. Esta carioca é uma artista engajada com os problemas sociais, sobretudo no combate ao racismo. Sendo também Coordenadora Intermediária de Direitos Humanos, Cidadania e Diversidade na Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante – DF e diretora de Literatura Afro-Brasileira no Sindicato dos Escritores do DF.