A PRODUÇÃO DOS GÊNEROS CURRÍCULO E ENTREVISTA EM SALA DE AULA: DIRECIONANDO O ALUNO PARA AS ATIVIDADES SOCIAIS
Discentes: Daynara Lorena Aragão Côrtes
Greicymara dos Santos Silva
Iasmim Santos Ferreira
Isabela Batista dos Santos
Docente: Profa. Dra. Márcia Mariano
Aporte teórico da sequência didática
Com base nas considerações acerca da definição de gêneros discursivos, proposta por Mikhail Bakhtin (2003), e da sua funcionalidade social, visto nos escritos de Charles Bazerman (2011), direcionamos a fundamentação e elaboração do nosso trabalho observando, principalmente, a estrutura e as circunstâncias de uso dessas formas tipificadas. Assumindo que os gêneros textuais são constituídos por três elementos fundamentais: o conteúdo, o estilo e a construção composicional (BAKHTIN, 2003); a escolha do currículo, cuja principal característica corresponde à objetividade, e da entrevista sustentou a construção da sequência didática sugerida.
Na noção de domínio discursivo e na classificação tipológica de Luiz Marcuschi (2008), o currículo se encaixa no ambiente profissional, onde, comumente, gêneros específicos circulam nessa esfera social. Considerado um gênero secundário (BAKHTIN, 2003), devido ao seu uso intermeado por instituição empregatícia, há um agrupamento de diversas sequências tipológicas, como, por exemplo: descritiva, ao marcar data e/ou ao descrever dados pessoais,; expositiva, ao dispor informações consideradas relevantes e; por fim, as duas últimas menos frequentes: argumentativa, haja vista a necessidade de uma linguagem concisa e objetiva; assim como a injuntiva, caso o sujeito queira saldar ou fazer referência ao empregador.
Desse modo, consideramos que, embora seja necessário após a análise do currículo, em um segundo momento, a utilização da linguagem oral na entrevista, o primeiro gênero textual citado é mais importante para a produção, pois é necessário que o sujeito o faça consciente da sua funcionalidade e esteja, consequentemente, habilitado para produzi-lo. No âmbito escolar, é importante que o aluno conheça a entrevista de trabalho, compreenda os tipos de currículos, para que não se sinta desnorteado frente às situações profissionais que exigem dele um conhecimento prévio desses gêneros. Por isso, selecionamos três tipos de currículos: curriculum vitae, currículo lattes, currículo na plataforma do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
Referente ao primeiro gênero citado, ele é o mais solicitado no mercado de trabalho comercial, o segundo é de caráter acadêmico, destina-se aos alunos de graduação e especialistas nos mais diversos níveis. Por sua vez, o currículo na plataforma CIEE é destinado aos alunos do ensino médio que tenham interesse em fazer estágio. A importância do trabalho com esses gêneros discursivos dá-se pela ausência dessas formas textuais nas aulas de língua portuguesa do ensino básico. Sendo assim, muitas vezes os professores solicitam a produção que se distancia da grande demanda social pedida ao aluno na futura vida profissional. Em geral, quando os alunos chegam às universidades, os gêneros que passam a fazer parte do seu cotidiano são distintos dos ensinados na escola.
Com vista nessas considerações, o ensino do gênero resumo, por exemplo, por vezes não é satisfatório, pois os alunos aprendem a fazer recortes do texto sem referenciá-los e acabam não sendo ensinados a expressar com as suas próprias palavras o que o texto propõe. Semelhantemente, isso ocorre com outros gêneros: a resenha, a pesquisa, a dissertação, etc. Por esses motivos, percebemos a necessidade de aproximar o ensino de gêneros na escola com a vida acadêmica, pois alguns dos que são solicitados na graduação já são requeridos na fase escolar.
Outro problema que envolve o ensino dos gêneros é a dicotomia entre língua falada e língua escrita. O ensino dos gêneros se mantém sob a égide dos gêneros escritos, desprezando os orais e, consequentemente, ignorando as interfaces entre ambos. Conforme afirma Marcuschi (2008), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) não opõem escrita e oralidade, nem as consideram situações polares. Assim, optamos por utilizar dois gêneros textuais que estão imbricados no contexto do mercado de trabalho e pertencem às esferas: oral e escrita. Dessa forma, a sequência didática elaborada seguiu as orientações encontradas nos escritos de Rildo Cosson (2009), a partir das adaptações necessárias.
Nessa perspectiva, nosso objetivo, em primeiro plano, é fazer com que os alunos conheçam os gêneros e sejam habilitados a participarem de uma entrevista, cuja atividade requer determinados comportamentos e enunciados específicos. Objetivamos, também, instruir os alunos na ciência dos tipos de currículo e na sua elaboração, ao lado das adaptações necessárias, de acordo com situação pedida. Desse modo, aderindo aos escritos de Bazerman, no que faz referência a criação dos gêneros e seus usos, consentimos a seguinte visão como necessária para o entendimento das estruturas textuais e sua utilização:
Gêneros emergem nos processos sociais em que pessoas tentam compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades e compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos. Os gêneros tipificam muitas coisas além da forma textual. São parte do modo como os seres humanos dão forma às atividades sociais. (BAZERMAN, 2011, p. 32).
Assim, o objetivo sociocomunicativo da entrevista e do currículo é que os alunos não só conheçam e aprendam a produzir, conforme mencionado anteriormente, mas que entendam a função do gênero na vida prática. Para se chegar ao mercado de trabalho, é preciso passar pela entrevista, mostrar-se o melhor candidato, não basta ter os pré-requisitos para a vaga pretendida, é necessário saber dispor essas informações adequadas ao modelo do currículo. Como apontado na citação trazida, os gêneros são “parte do modo como os seres humanos dão forma às atividades sociais”, o trabalho é, portanto, uma atividade social, mas para alçar espaço no mercado, outras atividades sociais são desenvolvidas e, para serem incorporadas, passam pela produção do gênero e este possibilita e concretiza as ações.
De acordo com Bakhtin (2003): “O papel dos outros, para quem se constrói o enunciado, é excepcionalmente grande” (p. 301). Portanto, o aluno precisa se reconhecer enquanto produtor do gênero e saber quem é seu destinatário, pois todo enunciado tem o sujeito que escreve, pensando na adesão do outro a quem ele pretende atingir. Em vista disso, cada aluno vai escolher o seu destinatário e fazer o currículo voltado para a empresa que almeja trabalhar, tendo este auditório como seu destinatário, se for um estágio em um banco, por exemplo, o aluno terá que cadastrar o currículo na plataforma do CIEE, se deseja trabalhar em um comércio, e poderá fazer o currículo vitae.
Para a entrevista, o aluno deverá acordar com a sua dupla quem será o empregador ou encarregado de contratar e quem será o entrevistado, também, deverão combinar qual a vaga pretendida e qual empresa. Cumprido desta forma, o professor fica com a incumbência de acompanhar as duplas e oferecer suporte necessário para que todos consigam escolher o seu destinatário e desenvolver as atividades propostas. Em decorrência disso, a divulgação das entrevistas ocorrerá nas próprias aulas, as duplas se apresentarão na classe e todos conhecerão os trabalhos uns dos outros.
Em vista disso, os currículos voltados aos estágios estarão disponíveis na plataforma do CIEE e os currículos vitae poderão ser entregues nas empresas que os alunos escolheram como destinatário. Nem todos os alunos precisam ou querem trabalhar, assim todos os currículos deverão ser impressos e afixados em um painel na sala, confeccionado pelos próprios alunos. Além de na última aula da sequência, os alunos que entregaram seus currículos nas empresas e comércios locais terão um espaço para compartilhar com os colegas como foi a recepção do texto, caso algum passe por entrevista, também, deve descrever a experiência para a turma e dizer se a simulação de entrevista em sala de aula pôde ou não colaborar com alguma eventual prática real.
Por fim, como finalização da atividade proposta para o trabalho com a linguagem em sua forma escrita e oral, através da elaboração do currículo e entrevista, faz-se necessário uma atividade que contabilize a participação dos alunos, como, por exemplo, uma avaliação para analisar o desenvolvimento da turma. O exame não será feito de uma só forma, mas fragmentado em cada etapa da sequência, avaliando o envolvimento e a evolução dos alunos em cada momento. Toda a sequência corrobora para que o aluno perceba o gênero de forma prática, como algo que emana da atividade humana, conforme observa Bakhtin (2003) nos seus estudos.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA:
Público-alvo: 2º e 3º anos do Ensino Médio
Número de aulas: 8 aulas de 50min.
- MOTIVAÇÃO
1ª aula:
Dinâmica “CHUVA DE IDÉIAS E PRÓS E CONTRAS”.
Pode ser utilizada tanto para gerar ideias sobre determinado assunto e/ou problema como também para instigar a reflexão e debate sobre as melhores soluções de um dado problema, fazendo com que os integrantes do grupo tenham de ARGUMENTAR e DEFENDER suas opiniões. Sentados em círculo, o professor sorteará um papel e começará a dinâmica dizendo uma única palavra que faça referência ao tema sorteado. Em seguida, passará o papel para o aluno ao seu lado e este deverá falar outra palavra e assim sucessivamente. Para que haja variedades, ninguém poderá falar algo que já tenha sido mencionado. Cada palavra dita deverá ser escrita no quadro pelo professor ou pelo próprio aluno.
Materiais:
- Caixa ou saco pequeno, piloto, quadro, papéis com nomes de temas da atualidade e/ou problemas relacionados ao tema para levantamento de ideias/soluções.
- Exemplos de temas: Aborto, carreira profissional, violência contra a mulher, direitos humanos, meio ambiente, tecnologia, educação, política ou qualquer outro tema relacionado a sua disciplina ou não.
Objetivos:
- Adquirir vocabulário;
- Discutir conhecimentos gerais;
- Defender pontos de vista;
- Respeitar o ponto de vista alheio;
- Estimular o raciocínio rápido.
- Formação indicada: Alunos sentados em círculo.
Dica: O professor poderá colocar mais papéis do tema a ser estudado na aula e após todos participarem dizendo uma palavra ele começará uma discussão.
A dinâmica do pró e contra é muito bem vinda nesse tipo de atividade. Divide-se a turma em duas equipes e cada uma terá uma posição divergente da outra. Cada equipe elaborará argumentos para explicar à turma o porquê de ser contra ou a favor de determinado assunto.
Referência
http://armazemdetexto.blogspot.com.br/2015/03/dinamicas-para-sala-de-aula.html
- INTRODUÇÃO
2ª aula:
Avaliação do conhecimento prévio dos alunos acerca do gênero a ser trabalhado:
- O que é um currículo?
- Para que serve?
- Sabe como elaborar um currículo?
- Quais os tipos de currículo?
- COMPREENSÃO DO GÊNERO CURRÍCULO:
Explanação por parte do professor:
- Definição do gênero textual currículo;
O gênero textual currículo “[…] é um documento que reúne informações sobre a formação, capacitações e experiências profissionais de alguém que se candidata a um emprego, concurso, ou uma bolsa de estudo, entre outros.” (MAGALHÃES, 2012, p. 85).
Gêneros emergem nos processos sociais em que pessoas tentam compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades e compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos. Os gêneros tipificam muitas coisas além da forma textual. São parte do modo como os seres humanos dão forma às atividades sociais. (BAZERMAN, 2011, p. 32).
O objetivo sociocomunicativo do currículo é que os alunos não só conheçam e aprendam a produzir, mas também entendam a função disso na vida prática.
Vitae
“A expressão Curriculum Vitae vem do latim onde “vitae” é vida e “curriculum” tem o sentido de trajetória, curso ou carreira. Logo, se fôssemos traduzir a tal expressão seria algo como “a trajetória da vida”. O Curriculum Vitae terá como objetivo trazer uma síntese das qualificações, experiências profissionais, formação acadêmica e dados pessoais. Neste último, não se usa mais colocar naturalidade, filiação, no caso de RG e CPF, só quando solicitado, caso contrário, não é necessário.”
Referência
http://brasilescola.uol.com.br/redacao/curriculum-vitae.htm
Centro de integração empresa-escola (CIEE)
“O CIEE recomenda que o currículo seja dividido em quatro partes:
Na primeira deve conter os dados pessoais, como nome, endereço, telefone e e-mail.
A segunda parte é onde deve constar a formação do candidato.
Na terceira parte o estudante vai relatar as experiências profissionais, caso as tenha. Elas devem ser ordenadas da mais recente para a mais antiga.
A quarta e última parte deve ser preenchida com informações sobre conhecimentos em idiomas e informática ou outro curso relevante para a vaga.”
Referência
http://editorial.ciee.org.br/como-fazer-um-bom-curriculo-para-estagio/
Lattes
“É uma ferramenta criada pelo CNPq (Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o qual disponibiliza um cadastro gratuito para profissionais ocupantes de distintas áreas, englobando desde professores a pesquisadores e cientistas, possuem registradas todas as suas experiências profissionais, publicações de artigos, escolaridade, entre outras circunstâncias que envolvam situações de produção intelectual.”
Referência
http://monografias.brasilescola.uol.com.br/regras-abnt/curriculo-lattes.htm
3ª aula: A importância da adequação à norma culta.
Os PCN ressaltam a importância dos professores recriarem situações comunicativas que simulem também o ambiente extraescolar, a língua portuguesa deve ser estudada não apenas no âmbito das regras gramaticais, mas também considerar os usos sociais que o aluno realiza. Dessa maneira, os PCN abordam a língua relacionando-a à noção de interação e produção de sentido. Contudo, os Parâmetros Curriculares Nacionais reverberam que a aceitação de determinado uso linguístico está associada à sua representatividade, ou seja, pode-se notar que a maior representação é a da classe dominante, por isso alguns gêneros precisam se adequar à norma culta.
Todas as variedades linguísticas são sistemas igualmente lógicos, complexos, estruturados, porém quanto menos prestígio têm os seus falantes na escala social, menos valor tem sua variedade linguística. O papel da escola é proporcionar o contato entre as variedades: falantes de variedades não prestigiadas devem aprender a variedade de prestígio, para usá-la nas situações em que ela é requerida. (FREITAG e LIMA, 2008, p.112).
- PRODUÇÃO DO GÊNERO CURRÍCULO
1ª etapa:
TESTE VOCACIONAL: Nessa etapa o aluno deve fazer teste vocacional para identificar em qual área ele se insere melhor.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D3m9x4buSFs>.
2ª etapa:
Possíveis empresas as quais seriam destinados os currículos:
- Bancos;
- Clínicas;
- Farmácias;
- Supermercados;
- Fábricas.
Obs.: O aluno poderá sugerir alguma empresa.
3ª etapa:
Solicitar que os alunos façam seus currículos (vitae ou CIEE), além disso, pedir que cada aluno direcione seu currículo para algumas das empresas sugeridas pelo professor.
4ª aula: Devolução e refacção dos currículos.
5ª aula: Após essa etapa, os alunos que desejarem entregarão seus currículos nas empresas selecionadas. Por outro lado, os que não quiserem ou não precisarem colocarão seus currículos em um suporte para que sejam expostos para turma.
6ª aula:
- Exibição do vídeo: O vídeo retrata de forma humorística uma entrevista de emprego, sendo que em vez do empregador entrevistar o concorrente, o futuro empregado que verifica se a empresa preenche os requisitos esperados por ele em relação ao seu novo emprego.
“Entrevista de Emprego ao Contrário – Com Murilo Gun e Fernando Muylaert”;
Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19855>.
- Apresentação do gênero textual entrevista.
Definição:
A entrevista é um “gênero jornalístico que se caracteriza por sua estruturação dialogal, com perguntas e respostas, precedidas por um texto explicativo de abertura. O discurso predominante é interativo, com sequências dialogais e expositiva. (BALTAR, 2004 apud PACHECO, 2008, p. 5).
Obs.: O professor poderá levantar alguns aspectos mostrados no vídeo referentes ao processo da entrevista de emprego.
7ª aula: Propor aos alunos que formem duplas e escolham um currículo para ser utilizado na entrevista simulada, a qual um aluno será o empregador e o outro o candidato à vaga de emprego.
8ª aula: Apresentação de uma simulação de entrevista de emprego para a turma.
- AVALIAÇÃO
Sugere-se que a avaliação seja feita por etapas, visto que o aluno produzirá um gênero escrito e um oral.
Referências:
BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. Trad. Judith Chambliss Hoffnagel. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Coleção biblioteca universal).
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Editora Contexto, 2009.
FREITAG, R. e LIMA, G. Sociolinguística. UFS/EAD. São Cristóvão/SE. 2008.
GUN, M. MUYLAERT, F. Entrevista de Emprego ao Contrário – Com Murilo Gun e Fernando Muylaert. Youtube, 22 abr. 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ne3UbFo_64s>. Acesso em: 30 set. 2016.
MAGALHÃES, Edna Maria. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Módulo I – Linguagens e códigos. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental de português. Brasília: MECSEF, 1998.
SOUVESTIBULANDO.COM. Teste Vocacional – 3 dicas para escolher a profissão. Youtube, 03 dez. 2014. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=D3m9x4buSFs>. Acesso em: 04 out. 2016.
PACHECO, L. P. O gênero entrevista como ferramenta de ensino em aulas de Língua Portuguesa. Linguagens e Cidadania: ano 10, n.2, jun-dez, 2008.