TRABALHANDO LITERATURA MEDIEVAL EM SALA DE AULA

Autor:

Eloysa Carla Pereira Menezes

Orientadora:

Jeane de Cassia Nascimento Santos

Apresentação

O presente trabalho busca apresentar uma sequência didática para o ensino da leitura e compreensão textual do gênero literário, utilizando como corpus a farsa “O velho da horta” de Gil Vicente. “A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada” (COSSON, 2011, p.17).

Objetivos:

Através da execução da leitura tem-se como objetivo a formação de leitores autônomos, isto é, capazes de interpretar e compreender os diversos tipos de texto, não só dentro, como também fora do ambiente escolar.

Diante dessa perspectiva, é muito importante a interação entre professor e aluno assim como, leitor e texto, pois leitura é isto, uma interação de ambas as partes onde todos buscam o mesmo objetivo, a construção de significado de um texto. (COSSON, 2011, pg.47)

Público alvo/ turma: 1º ano do ensino médio

Número de aulas: 6 aulas (50 minutos)

Conteúdo: A farsa do velho da horta – Gil Vicente.

Recursos didáticos: Data show, notebook, quadro branco, caixa de som;


SEQUÊNCIA DIDÁTICA

1ª aula

Motivação

     O docente iniciará à aula com algumas indagações, buscando assim, uma noção básica do conhecimento prévio dos alunos sobre leitura:

  • O que entendem por leitura?
  • Para que lemos?
  • Por que lemos?

Após a roda de conversa referente às indagações acima, o professor falará que durante as próximas aulas eles irão estudar uma obra que faz parte do movimento humanista, conteúdo este que estão estudando. Assim, para despertar o interesse dos alunos, o professor (a) apresentará o trailer do filme “A filha do meu melhor amigo” (2013) do diretor britânico Julian Farinoe, que aborda a temática sobre a negação dos pais de uma adolescente que não aceita o relacionamento por conta da diferença de idade.

Trailer do filme:  https://www.youtube.com/watch?v=thdcDaWoj3g

2ª aula

Introdução

        Inicialmente o professor (a) apresentará oralmente a obra que irá trabalhar, começando pelo título “A farsa do velho da horta” (1512) de Gil Vicente. Farsa porque trata de temas profanos (transgride as regras divinas). A escolha da obra foi justamente porque ela está inserida no contexto histórico literário que eles estão estudando no momento, o movimento humanista. O docente, explicará sobre o humanismo dizendo que foi um movimento literário que surgiu no séc. XIV na Itália e que se espalhou por toda a Europa. O nome humanismo trazia como significado a valorização do homem, logo que a igreja católica passava por um momento de queda, pois na época do trovadorismo eles tinham um pensamento mais teocêntrico (Deus como o centro do universo) e com o surgimento desse novo movimento, eles foram abrindo espaço para o antropocentrismo. Foi também marcado pela transição da Idade Média para a Idade Moderna e surgimento da burguesia.

Comentar sobre o escritor Gil Vicente, atendendo as informações importantes sobre a vida e obra do autor, por exemplo, que este escritor é considerado o maior representante da literatura portuguesa na idade média, fundou o teatro onde apresentava os seus espetáculos palacianos que faziam críticas à sociedade e eram encenadas porque poucas pessoas sabiam ler naquela época.

Em seguida, falar brevemente sobre o enredo da obra, dizendo que se trata de uma peça teatral, em que se desenvolve uma ação contínua e encadeada, visto que, o foco principal gira em torno das desilusões de um velho com seu frustrado amor por uma jovem que vai à sua horta comprar verduras.

Depois, apresentar a obra impressa, dizendo para eles que não é a original, trata-se apenas de uma adaptação do galego (português arcaico), de domínio público e editada pelo núcleo de educação à distância em Belém/PA. Por fim, solicitar para que imprimam e tragam para a próxima aula.

Link da obra: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00116a.pdf

3ª aula

Leitura e Interpretação

Nesta aula, o docente apresentará algumas estratégias que facilitam na hora da leitura para um melhor entendimento do texto.

  • Compreender o que está explícito e implícito no texto;
  • Atenção ao fundamental (o que o texto quer passar?);
  • Se o texto apresenta dificuldades e quais são elas (ele tem sentido, coerência?);
  • Compreensão (as ideias contidas e seu principal ponto);
  • Elaborar inferências como: hipóteses, previsões, perguntas e conclusões (qual poderia ser o final da história? O significado desta palavra que me é desconhecido).

Em seguida, iniciar a leitura (individualmente) da página 1 até a página 5, após o término pedir para que os alunos façam um círculo para iniciar uma roda de conversa sobre o que foi lido até o momento, e simular algumas hipóteses sobre o que poderá acontecer no final da história.

4ª aula

Leitura e Interpretação

Nesta aula será iniciada com continuação da leitura da página 6 até a página 10 (final) da farsa de Gil Vicente. Em seguida, voltar aos questionamentos usando-se da intertextualidade a respeito da história, se o final condiz ou não com o nosso cotidiano.

5ª aula

Avaliação

        Nessa aula, o educador (a) pedirá para que os alunos façam um comentário interpretativo sobre a visão da obra em relação a nossa vida real e ao vídeo que assistiram na primeira aula, buscando assim a verossimilhança entre um e outro, dando exemplos.

6ª aula

Encerramento

O docente finalizará com uma conversação sobre os comentários que eles elaboraram na aula anterior com possíveis questões que ficaram pendentes ou até mesmo mal interpretadas. Em seguida, ressaltará à importância das estratégias que ajudam na leitura do conteúdo a ser explorado.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2ªEd. São Paulo: Contexto, 2011.

Obra disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00116a.pdf

Vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=thdcDaWoj3g

Itabaiana-SE
Abril/2017

 

 

SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, GÊNERO CONTO

Autoras:

Claudiane da Cunha Santos

Denise Brito Silva

Geovaneide Santos dos Reis

Jennifer Santos Rodrigues


OBJETIVO GERAL:

Desenvolver com os alunos competências e habilidades no tema abordado – Violência contra a mulher e sobre os gêneros do discurso, que estão classificados em três e trazem à memória à antiga Retórica, estes que sejam eficazes no cumprimento dos objetivos a serem alcançados através da realização de um Júri Simulado, a partir de casos disponíveis na internet.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

  •  Tratar da violência contra a mulher;
  •  Observar os diferentes casos de violência disponíveis nos meios sociais;
  • Entender a retórica e os gêneros do discurso na antiga Retórica;
  • Observar os fatos que fazem menção a violência contra a mulher no conto “Substância” de Guimarães Rosa;
  • Compreender as características de um júri;
  • Instigar os alunos a desenvolverem um júri simulado.

METODOLOGIA: A aula será iniciada com a apresentação do conteúdo, pelo docente.  Este conduzirá as aulas de forma dialógica, interativa, fazendo com que os discentes absorvam o conteúdo apresentado em sala de aula de forma coesa. Durante a aula, o conteúdo será apresentado de forma expositiva, através de slides e através de explanações orais pelo professor, em diálogo com os discentes.

TEMA: Casos de violência contra a mulher

GÊNERO: Conto

PÚBLICO-ALVO: Alunos do 3º ano do Ensino Médio.

RECURSOS DIDÁTICOS: Notebook e DataShow

AULA 1:

Nessas aulas, duas aulas com duração de 50 min cada, o docente solicitará que os alunos leiam o conto entregue impresso por ele, “Substâncias” de Guimarães Rosa, publicado no livro Primeiras Estórias (1962). A partir da leitura os alunos serão instigados a relacionar o conto com a violência contra a mulher, tendo que levar em consideração as diferentes formas que ela pode acontecer. No conto Maria Exita, personagem principal, sofre as consequências de uma família ‘manchada’ na sociedade e acaba trabalhando em uma fazenda com o polvilho. Sua vida resume-se na quebra desse elemento e durante sua estadia na fazenda, o senhor Sionésio se apaixona pela moça, porém, tem o receio de se envolver com ela por conta do passado da sua família. O contato com o polvilho irá esclarecer ao leitor que Maria Exita tinha o propósito de manter-se pura, limpa e por isso nunca quis praticar outra atividade a não ser quebrar o polvilho. Guimarães apresenta uma reflexão acerca do papel feminino na sociedade da época, em que a mulher deveria ser pura, além da passividade a qual a mulher era sujeitada. Em contraponto a essa figura feminina passiva apresentaremos ao alunado a curta-metragem Acorda, Raimundo…. Acorda! Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=HvQaqcYQyxU&gt;. Nessa curta os papéis estão invertidos, ou seja, a mulher trabalha fora, especificamente em uma oficina, e o marido encontra-se em casa realizando as tarefas domésticas. Após os alunos assistirem o vídeo inicia-se um debate de como pode ser vista a violência contra o sexo considerado frágil e logo em seguida faz-se necessário instigar o alunado a comparar as duas histórias, observando os aspectos que as diferem, como também as semelhanças entre as personagens.

 AULA 2:

 Nas seguintes aulas, duas aulas com duração de 50 min cada, será apresentado um vídeo intitulado Igualdade de gênero disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=ZCGLC-vziRc > com o propósito de reforçar o diálogo da oficina anterior, sobre a necessidade da igualdade entre os sexos masculino e feminino na sociedade. Em seguida, será apresentado aos alunos dados referentes a violência contra a mulher, tanto no âmbito geral como também no estado de Sergipe. Esses dados serão apresentados através de gráficos disponíveis pela Centra de Atendimento à Mulher e também por gráficos apresentados online. Com a explanação dessas informações em dados, apresentaremos casos de violência selecionados na internet, sendo, a maioria, casos atuais e ocorridos no estado de Sergipe e alguns bem repercutidos na mídia. Realizada a leitura dos casos e os comentários do alunado a respeito dos casos será pedido a divisão da turma em três grupos. Após a divisão realizada, cada grupo deverá escolher um caso dos que foram apresentados para desenvolver um júri simulado. O professor irá informar como funciona um júri e quais pessoas participam de um júri. Os alunos deverão decidir essas questões em sala. O intuito é realizar um Júri Simulado, com o propósito de instigar a participação, reflexão e o senso crítico. O júri é composto por:

  •  Juiz: responsável pela organização e andamento do júri.
  • Jurados: Analisam os fatos e dão o veredicto.
  • Advogados de defesa: Argumentam a favor do réu ou da vítima.
  • Promotores: São conhecidos como advogados de acusação, pois buscam condenar o réu.
  • Testemunhas: Reforçam a inocência do acusado ou da vítima.
  • Réu: É o acusado, cujo o ato está em discussão.
  • Vítima: Quem sofreu o ato.

AULA 3:

 Nesta aula, será dado um conteúdo teórico necessário para a realização do júri, haja vista que em cada ambiente faz-se necessário uma adequação das atitudes, da vestimenta e também da linguagem utilizada. Os conceitos de retórica, a argumentação e os tipos de discursos abordados por Aristóteles.

A retórica é a arte da eloquência, da palavra, do argumentar. E argumentar é o reagir e o interagir, em que leva a persuasão.

A retórica irá observar se o orador está sendo persuasivo, mas também se o ouvinte foi persuadido. Assim, para Aristóteles, o texto está sendo persuasivo se apresentar a seguintes partes: Inventio: Escolha do tema e dos argumentos; Dispositio: Organização do discurso; Elocutio: Adequação do discurso (linguagem); Actio: Clareza na apresentação, na fala e na organização do trabalho. E os gêneros do discurso estão classificados em três e trazem à memória à antiga Retórica, porém atualizadas na atualidade. São eles:

Discurso Judiciário: relaciona-se com acusações e defesas, como em tribunais, julgar ou defender a partir de argumentos; linguisticamente caracteriza-se pelo uso de tempos verbais do passado.

Discurso Deliberativo: Envolve questões públicas relacionadas à coletividade, como os utilizados nas assembleias, nos discursos políticos e nos documentos técnicos. Linguisticamente caracteriza-se pela utilização de tempos verbais do futuro.

Discurso Epidítico: descreve, define, não leva o auditório a fazer nada, é o gênero de celebrações, das homenagens, exaltação de virtudes de algo ou alguém. Caracteriza-se pelo uso dos tempos presentes.

Após a apresentação sobre os gêneros da antiga retórica, faz-se necessário em seguida, abordar com os alunos como se comportar em um júri, além de quesitos importantes no desenvolvimento do mesmo. Para isso será apresentado exemplo de um bom argumento, além de imagens de alguns júris para detalhar o posicionamento de cada integrante e a vestimenta necessária. Por fim será realizada uma conversa com os grupos a respeito dos casos e tirar possíveis dúvidas que podem surgir, como também a apresentação de um vídeo intitulado Igualdade de gênero com dados acerca do aumento, a cada dia, dos casos de violência no Brasil.

AULA 4:

Na última aula, os discentes deverão apresentar para a turma o seu júri simulado, levando em consideração todos os quesitos e todas as instruções apresentadas durantes as aulas anteriores.

ANEXOS

Substância 

(GuimarãesRosa)

Sim, na roça o polvilho se faz a coisa alva: mais que o algodão, a garça, a roupa na corda. Do ralo às gamelas, da masseira às bacias, uma polpa se repassa, para assentar, no fundo da água e leite, azulosa – o amido – puro, limpo, feito surpresa. Chamava-se Maria Exita. Datava de maio, ou de quando? Pensava ele em maio, talvez, porque o mês mor – de orvalho, da Virgem, de claridades no campo. Pares se casavam, arrumavam-se festas; numa, ali, a notara: ela, flor. Não lembrava a menina, feiosinha, magra, historiada de desgraças, trazida, havia muito, para servir na Fazenda. Sem se dar idéia, a surpresa se via formada. Se, às vezes, por assombro, uma moça assim se embelezava, também podia ter sido no tanto-e-tanto. Só que a ele, Sionésio, faltavam folga e espírito para reparar em transformações.
Saíra da festa em começo, dada mal sua presença; pois a vida não lhe deixava cortar pelo sono: era um espreguiçar-se ao adormecer, para poupar tempo no despertar. Para a azáfama – de farinha e polvilho. Célebres, de data, na região e longe, os da Samburá; herdando-a, de repente, Seo Nésio, até então rapaz de madraças visagens, avançara-se com decisão de açoite a desmedir-lhes o fabrico. Plantava á vasta os alqueires de mandioca, que ali, aliás, outro cultivo não vingava; chamava e pagava os braços; espantava, no dia-a-dia, o povo. Nem por nada teria adiantado atenção a uma criaturinha, a qual.
Maria Exita. Trouxera-a, por piedade, pela ponta da mão, receosa de que o patrão nem os outros a aceitassem, a velha Nhatiaga, peneireira. Porque, contra a menos feliz, a sorte sarapintara de preto portais e portas: a mãe, leviana, desaparecida de casa; um irmão, perverso, na cadeia, por atos de morte; o outro, igual feroz, foragido, ao acaso de nenhuma parte; o pai, razoável bom-homem, delatado com lepra, e prosseguido, decerto para sempre, para um lazareto. Restassem-lhe nem afastados parentes; seja, recebera madrinha, de luxo e rica, mas que pelo lugar apenas passara, agora ninguém sabendo se e onde vivia. Acolheram-na, em todo o caso. Menos por direita pena; antes, da compaixão da Nhatiaga. Deram-lhe, porém, ingrato serviço, de todos o pior: o de quebrar, à mão, o polvilho, nas lages.
Sionésio, de tarde, de volta, cavalgava através das plantações. Se a meio-galope, se a passo, mas sôfrego descabido, olhando quase todos os lados. Ainda num Domingo, não parava, pois. Apenas, por prazo, em incertas casas, onde lhe dessem, ao corpo, consolo: atendimento de repouso. Lá mesmo, por último, demorava um menos. Prazer era ver, aberto, sob o fim do sol, o mandiocal de verdes mãos. Amava o que era seu – o que seus fortes olhos aprisionavam. Agora, porém, uma fadiga. O ensimesmo. Sua sela se coçava de uso, aqui a borraina aparecendo; tantas coisas a renovar, e ele sem sequer tempo. Nem para ir de visita, no Morro-do-Boi, à quase noiva, comum no sossego e paciências, da terra, em que tudo relevava pela medida das distâncias. Chegava à Fazenda. Todavia, esporeava.
O quieto completo, na Samburá, no Domingo, o eirado e o engenho desertos, sem eixo de murmúrio. Perguntava à Nhatiaga, pela sua protegida. __ “Ela parte o polvilho nas lages…” – a velha resumira. Mas, e até hoje, num serviço desses? Ao menos, agora, a mudassem! __ “Ela é que quer, diz que gosta. E é mesmo, com efeito…” – a Nhatiaga sussurrava. Sionésio, saber que ela, de qualquer modo, pertencia e lidava ali, influía-lhe um contentamento; ele era a pessoa manipulante. Não podia queixar-se. Se o avio da farinha se pelejava ainda rústico, em breve o poderia melhorar, meante muito, pôr máquinas, dobrar quantidades.
Demorara para ir vê-la. Só no pino do meio-dia – de um sol do qual o passarinho fugiu. Ela estava em frente da mesa de pedra; àquela hora, sentada no banquinho rasteiro, esperava que trouxessem outros pesados, duros blocos de polvilho. Alvíssimo, era horrível, aquilo. Atormentava, torturava: os olhos da pessoa tendo de ficar miudinho fechados, feito os de um tatu, ante a implacável alvura, o sol em cima. O dia inteiro, o ar parava levantado, aos tremeluzes, a gente se perdendo por um negrume do horizonte, para temperar a intensidade brilhante, branca; e tudo cerradamente igual. Teve dó dela – pobrinha flor. Indagou:__ “Que serviço você dá?” – e era a tola questão. Ela não se vexou. Só o mal-e-mal, o boquinãoabrir, o sorriso devagar. Não se perturbava. Também, para um pasmar-nos, com acontecesse diferente: nem enrugava o rosto, nem espremia ou negava os olhos, mas oferecidos bem abertos – olhos desses, de outra luminosidade. Não parecia padecer, antes tirar segurança e folguedo, do triste, sinistro polvilho, portentoso, mais a maldade do sol. E a beleza. Tão linda, clara, certa – de avivada carnação e airosa – uma iázinha, moça feita em cachoeira. Viu que, sem querer, lhe fazia cortesia. Falou-lhe, o assunto fora de propósito: que o polvilho, ali, na Samburá, era muito caprichado, justo, um dom de branco, por isso para a Fábrica valia mais caro, que os outros, por aí, feiosos, meio tostados…
Depois, foi que lhe contaram. Tornava ainda, a cavalo, seu coração não enganado, como sendo sempre desiguais os domingos; de tarde, aí que as rolinhas e os canários cantavam. Se bem – ele ali o dono – sem abusar da vantagem. “De suas maneiras, menina, me senti muito agradado…” – repetia um futuro talvez dizer. A Maria Exita. Sabia, hoje: a alma do jeito e ser, dela, diversa dos outros. Assim, que chegara lá, com os vários sem-remédios de amargura, do oposto mundo e maldições, sozinha de se sufocar. Aí, então, por si sem conversas, sem distraídas beiras, nenhumas, aportara àquele serviço – de toda a despreferência, o trabalho pedregoso, no quente feito boca-de-forno, em que a gente sente engrossar os dedos, os olhos inflamados de ver, no deslumbrável. Assoporava-se sob o refúgio, ausenciada? Destemia o grado, cruel polvilho, de abater a vista, intacto branco. Antes, como a um alcanforar o fitava, de tanto gosto. Feito a uma espécie de alívio, capaz de a desafligir; de muito lhe dar: uma esperança mais espaçosa. Todo esse tempo. Sua beleza, donde vinha? Sua própria, tão firme pessoa? A imensidão do olhar – doçuras. Se um sorriso; artes como de um descer de anjos. Sionésio nem entendia. Somente era bom, a saber feliz, apesar dos ásperos. Ela – que dependendo só de um aceno. Se é que ele não se portava alorpado, nos rodeios de um caramujo; estava amando mais ou menos.
“Se outros a quisessem, se ela já gostasse de alguém?” – as asas dessa cisma o saltearam. Tantos, na faina, na Samburá, namoristas; e às festas – a idéia lhe doía. Mesmo de a figurar proseando com os próximos, no facilitar. Porém, o que ouviu, aquietava-o. Ainda que em graça para amores, tão formosa, ela parava a cobro de qualquer deles, de más ou melhores tenções. Resguardavam a seus graves de sangue. Temiam a herança da lepra, do pai, ou da falta de juízo da mãe, de levados fogos. Temiam a algum dos assassinos, os irmãos, que inesperado de a toda hora sobrevir., vigiando por sua virtude. Acautelavam. Assim, ela estava salva. Mas a gente nunca se provê segundo garantias perpétuas. Sionésio passara a freqüentar nas festas, princípios a fins. Não que dançasse; desgostava-o aquilo, a algazarra. Ficava de lá, de olhos postos em, feito o urubu tomador de conta. Não a teria acreditado tão exata em todas essas instâncias – o quieto pisar, num muxoxozinho úmido prolongado, o jeito de pôr sua cinturinha nas mãos, feliz pelas pétalas, juriti nunca aflita. A mesma que no amanhã estaria defronte da mesa de laje, partindo o sol nas pedras do terrível polvilho, os calhaus, bitelões. Se dançava, era bem; mas as muito poucas vezes. Tinham-lhe medo, à doença incerta, sob a formosura. Ah, era bom, uma providência, esse pejo de escrúpulo. Porque ela se via conduzida para não se casar nunca, nem podendo ser doidivã. Mas precisada de restar na pureza. Sim, do receio não se carecia. Maria Exita era a para se separar limpa e sem jaças, por cima da vida; e de ninguém. Nela homem nenhum tocava.

Sem embargo de que, ele, a queria, para si, sempre por sempre.
E, ela, havia de gostar dele, também, tão certamente.
Mas, no embaraço de inconstantes horas – as esperanças velhas e desanimações novas – de entre-momentos. Passava por lá, sem paz de vê-la, tinha um modo mordido de a admirar, mais ou menos de longe. Ela, no seu assento raso, quando não de pé, trabalhando a mãos ambas. Servia o polvilho – a ardente espécie singular, secura límpida, material arenoso – a massa daquele objeto. Ou, o que vinha ainda molhado, friável, macio, grudando-se em seus belos braços, branqueando-os até para cima dos cotovelos. Mas que, toda-a-vida, de solsim brilhava: os raios reflexos, que os olhos de Sionésio não podiam suportar, machucados, tanto valesse olhar para o céu e encarar o próprio sol.
As muitas semanas castigavam-no, amiúde nem conseguia dormir, o que era ele mesmo contra ele mesmo, consumição de peixão, romance feito. De repente, na madrugada, animava-se a vigiar os ameaços de chuva, erguia-se aos brados, acordando a todos:__ “Apanhar polvilho! Apanhar polvilho!…” Corriam, em confusão de alarme, reunindo sacos, gamelas, bacias, para receber o polvilho posto no ar, nas lajes, onde, no escuro da noite, era a única coisa a afirmar-se, como um claro de lagoa d’água, rodeado de criaturas estremunhadas e aflitas. Mal podia divisá-la, no polvoroso, mas contentava-o sua proximidade viva, quente presença, aliviando-o. Escutou que dela falassem: “Se não é que, no que não espera, a mãe ainda amanhece por ela…ou a senhora madrinha…” Salteou-se. Sem ela, de que valia a atirada trabalheira, o sobreesforço, crescer os produtos, aumentar as terras? Vê-la, quando em quando. A ela – a única Maria no mundo. Nenhumas outras mulheres, mais, no repousado; nenhuma outra noiva, na distância. Devia, então, pegar a prova ou o desengano, fazer a ação de a ter, na sisuda coragem, botar beiras em seu sonho. Se conversasse primeiro com Nhatiaga? – achava, estapeou aquele pensamento contra a testa. Não receava a recusação. Consigo forcejava. Queria e não podia dar volta a uma coisa. Os dias iam. Passavam as coisas, pretextadas. Que temia, pois, que não sabia que temesse? Por vez, pensou: era, ele mesmo, são? Tinha por onde merecer? Olhava seus próprios dedos, seus pulsos, passava muito as mãos no rosto. A diverso tempo, dava o bravo: tinha raiva a ela. Tomara a ele que tudo ficasse falso, fim. Poder se desentregar da ilusão, mudar de parecer, pagar sossego, cuidar só dos estritos de sua obrigação, desatinada. Mas, no disputar do dia, criava as agonias da noite. Achou-se em lágrimas, fiel. Por que, então, não dizia hás nem eis, andava de mente tropeçada, pubo, assuntando o conselho, em deliberação tão grave- assim de cão para o luar? Mas não podia. Mas veio.
A hora era de nada e tanto; e ela era sempre a espera. Afoito, ele lhe perguntou:
__ “Você tem vontade de confirmar o rumo de sua vida? __falando-lhe de muito coração. __ “Só se for já…” __ e, com a resposta, ela riu clara e quentemente, decerto que sem a propositada malícia, sem menospreço. Devia de ter outros significados o rir, em seus olhos sacis.
Mas, de repente, ele se estremeceu daquelas ouvidas palavras. De um susto vindo de fundo: e a dúvida. Seria ela igual à mãe? – surpreendeu-se mais. Se a beleza dela – a frutice, da pele, tão fresca, viçosa – só fosse por um tempo, mas depois condenada a engrossar e se escamar, aos tortos e roxos, da estragada doença? – o horror daquilo o sacudia. Nem agüentou de mirar, no momento, sua preciosa formosura, traiçoeira. Mesmo, sem querer, entregou os olhos ao polvilho, que ofuscava, na laje, na vez do sol. Ainda que por instante, achava ali um poder, contemplado, de grandeza, dilatado repouso, que desmanchava em branco os rebuliços do pensamento da gente, atormentou.
A alumiada surpresa.
Alvava.
Assim; mas era também o exato, grande, o repentino amor – o acima. Sionésio olhou mais, sem fechar o rosto aplicou o coração, abriu bem os olhos. Sorriu para trás. Maria Exita. Socorria-a a linda claridade. Ela – ela! Ele veio para junto. Estendeu também as mãos para o polvilho – solar e estranho: o ato de quebrá-lo era gostoso, parecia um brinquedo de menino. Todos o vissem, nisso, ninguém na dúvida. E seu coração se levantou. __ “Você, Maria, quererá, a gente, nós dois, nunca precisar de se separar? Você, comigo, vem e vai?” Disse, e viu. O polvilho, coisa sem fim. Ela tinha respondido:__ “Vou, demais.” Desatou um sorriso. Ele nem viu. Estavam lado a lado, olhavam para frente. Nem viam a sombra de Nhatiaga, que quieta e calada, lá, no espaço do dia.
Sionésio e Maria Exita – a meios-olhos, perante o refulgir, o todo branco. Acontecia o não-fato, o não-tempo, silêncio em sua imaginação. Só o um-e-outra, um em-si-juntos, o viver em ponto sem parar, coraçãomente: pensamento, pensamor. Alvor. Avançavam parados, dentro da luz, como se fosse o dia de todos os pássaros.

Dados de violência contra a mulher

1

Notificações de violência contra a mulher no estado de Sergipe em 2015

 Casos de violência contra a mulher para o júri-simulado

 Mulheres são agredidas em bar de Aracaju por recusarem uma cantada

Neste sábado (07/01/2012), a biomédica Carla Christine, de 36 anos, comemorava seu aniversário no bar Boteco Carioca, na avenida Francisco Porto, bairro Salgado Filho, com sua irmã Sheila Souza, também biomédica, 34, e um grupo de amigos. Tudo estava em clima de alegria até o momento em que as irmãs decidiram ir embora, por volta das 3h30, e um homem se levantou e deu uma cantada em Sheila. Diante da recusa no gracejo, começou uma discussão, a biomédica Sheila foi agredida verbalmente e em seguida recebeu um empurrão seguido de um soco. Ao perceber que a irmã estava sendo agredida, Carla saiu do carro e foi em seu socorro. A agressão contra Sheila continuava, tendo ela recebido vários socos e pontapés do homem. Ao tentar proteger a irmã, Carla também foi agredida pelo elemento e seu filho, um cantor conhecido como “Dú”, que se diz primo do cantor de pagode Belo. Carla recebeu dois socos, um no olho que lhe cortou o supercílio e outro na boca, além de um chute na perna. “Minha irmã deu um fora no cara que a abordou e ele começou a bater nela. Saí do carro para ajudar e também recebi dois socos dados pelo filho do homem, um tal de Dú, que se identifica como cantor. Meu queixo e meu olho estão muito machucados por causa desses homens. E minha irmã está cheia de hematomas por todo rosto”, disse Carla ao F5 News.

A agressão contra as mulheres só parou quando houve intervenção de outras pessoas. Sheila foi levada ao hospital para tratar dos diversos hematomas e escoriações, e sua boca, onde recebeu a maioria dos socos, muito machucada. As irmãs foram à Delegacia Plantonista prestar queixa contra o cantor e seu pai. Lá informaram que as câmeras de segurança do local registraram todos os momentos de dor e pânico que viveram. As irmãs já estão com relatório médico em mãos e irão fazer exame de corpo delito na segunda-feira. A reportagem do F5 News tentou entrar em contato com o cantor acusado da agressão. Todavia, não obteve resposta nas tentativas. Segundo informações, o cantor chegou há pouco tempo na cidade e faz shows em alguns bares da cidade.

2

Doze pessoas são mortas durante festa de réveillon em Campinas

Homem matou ex-mulher, filho e familiares; atirador se matou após crime.
Doze pessoas foram assassinadas em uma chacina na virada do ano, entre a noite deste sábado (31/12/2016) e a madrugada deste domingo (01/01/2017), durante uma confraternização de família, em Campinas (SP). O atirador se matou após o crime.

Onze vítimas morreram no local e outra no Hospital de Clínicas da Unicamp.

Três pessoas continuam internadas em hospitais do município.

Entre os mortos estão a ex-mulher, o filho de 8 anos e familiares. Segundo informações do boletim de ocorrência,

O técnico em laboratório na área de ciência e tecnologia Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, pulou o muro da residência onde acontecia a festa de ano novo e entrou efetuando disparos.

Em depoimento, uma testemunha disse na delegacia que achou que eram fogos, mas percebeu a situação ao ver um tio caído no chão, por isso, correu e se trancou em um banheiro para chamar ajuda.

A testemunha ouviu o atirador dizer que ia matar a ex-mulher porque ela tirou a guarda do filho e que depois disso, a criança falou que ele tinha matado a mamãe e na sequência, foram mais dois disparos e um silêncio.

Homem que agrediu delegada e segurança é indiciado por lesão gravíssima em MG

A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou nesta quinta-feira (29/11/16)  o comerciante Luiz Fernando Neder Silva, 34, por lesão corporal gravíssima, ameaça e lesão corporal leve.
No último dia 17, Silva foi flagrado agredindo a segurança Edvânia Nayara Ferreira Rezende, 23, após ter ameaçado, empurrado e ameaçado a mulher, a delegada da PC Ana Paula Kich Gontijo, 44, da delegacia de Mulheres de Três Corações (MG), município distante 287 Km de Belo Horizonte.
O comerciante está preso em um presídio da capital mineira cujo nome não foi divulgado por motivos de segurança. Caso seja condenado, Silva pode pegar nove anos e seis meses de prisão, somente no caso das agressões à segurança e a um motorista que tentou separar a briga.

O inquérito da polícia investigou também a agressão do comerciante contra o motorista Enioberto José de Jesus, 39, um dos que tentaram apartar a discussão entre ele e a segurança. Jesus foi agredido e teve dois dentes quebrados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 REBOUL, Olivier. 1925- Capítulo III- O sistema retórico. Introdução à retórica/Oliver Reboul: tradução Ivone Castilho Benedetti:- São Paulo: Martins Fontes, 1998.

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1962.

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/12/29/marido-de-delegada-que-agrediu-seguranca-e-indiciado-por-lesao-gravissima-em-mg.html

http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2017/01/familia-e-morta-em-chacina-durante-festa-de-reveillon-em-campinas.html

http://www.f5news.com.br/noticia/2532/mulheres-sao-agredidas-em-bar-de-aracaju-por-recusarem-uma-cantada.html

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-08/queixas-de-violencia-domestica-pelo180-aumentam-133-este-ano-em-relacao-2015

Acorda, Raimundo…. Acorda! Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=HvQaqcYQyxU&gt;

Igualdade de gênero disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=ZCGLC-vziRc >