Sequência didática: trabalhando empatia e preconceito a partir dos gêneros poema e narrativa

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM LETRAS

CARMEM ALESSANDRA CABRAL MOTA MATOS

              Trabalho apresentado à disciplina Leitura do Texto Literário, sob orientação da Profª Drª Jeane Nascimento

APRESENTAÇÃO

O trabalho com o texto literário em sala de aula está comumente atrelado às aulas de gramática, servindo de subsídio para tal ou apenas como uma atividade forçada de interpretação de texto. Enquanto professores de Língua Portuguesa, se queremos despertar o gosto pela leitura em nossos alunos e ajuda-los a ler melhor, precisamos rever nossa postura diante do texto, como também no momento de elaborarmos nossos planejamentos. O presente trabalho solicitado pela Profª Drª Jeane Nascimento, na disciplina Leitura do texto literário, apresentará sequências didáticas para o trabalho com o texto literário em sala de aula, tendo como base a obra Letramento Literário, de Rildo Cosson, que traz reflexões acerca do assunto e estratégias para a nossa prática, pois como afirma o autor (COSSON, 2016),  “No ambiente escolar, a literatura é um lócus de conhecimento e, para que funcione como tal, convém ser explorada de maneira adequada”.

 

OBJETIVO GERAL

  • Propor sequências didáticas voltadas para o letramento literário em sala de aula, para que possamos trabalhar de maneira eficaz com o texto literário.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Despertar o gosto pela leitura de textos literários.
  • Desenvolver atividades diferenciadas no trabalho com as obras literárias.
  • Promover uma mudança de postura e concepção frente ao texto literário.

GÊNERO

 Os gêneros escolhidos para este trabalho serão a narrativa e o poema.

TEMA

 A empatia e o preconceito serão os temas trabalhados nas sequências didáticas.

PÚBLICO ALVO

O presente trabalho terá como público alvo uma turma de adolescentes do 8º ano do Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual de SE.

RECURSOS UTILIZADOS

  • Lousa branca
  • Piloto
  • Computadores (laboratório de informática)
  • Internet (canal do youtube)
  • Texto impresso (conto, poema e música)
  • Folhas em branco

SEQUÊNCIA DIDÁTICA: NARRATIVA

I – MOTIVAÇÃO

O primeiro momento em sala de aula será para sondar o conhecimento prévio da turma. A professora deverá colocar escrito no quadro a palavra EMPATIA e perguntar aos alunos se já ouviram aquela palavra, se sabem o que significa. Em seguida, a professora escreverá a palavra PRECONCEITO e fará a mesma dinâmica. Diante destas exposições, será iniciada a discussão a partir dos comentários dos alunos conduzidas pelas inferências feitas pelo professor. Os alunos deverão estar organizados em círculo para facilitar o debate.

Duração: 02 aulas

II – INTRODUÇÃO

Neste segundo momento, os alunos serão conduzidos ao laboratório de informática, onde irão visualizar os seguintes vídeos propostos pelo professor:

https://www.youtube.com/watch?v=aPs6q5vqnFs

https://www.youtube.com/watch?v=HzCAGaYRX_0

https://www.youtube.com/watch?v=1Q31auoWVoQ

Sugestão de filme: “À espera de um milagre” é um  filme norte-americano  de 1999, do gênero  dirigido e roteirizado por Frank Darabont, com base no  livro homônimo de Stephen King.

Após a visualização dos vídeos, os alunos retornarão para a sala de aula (ou qualquer outro espaço onde possam ficar em círculo) e a professora promoverá uma roda de conversa, perguntando aos alunos:

  • O que vocês acharam dos vídeos?
  • Neles vocês perceberam alguma relação com o que foi conversado na aula passada sobre os conceitos “empatia” e “preconceito”?
  • Que relação vocês estabelecem com estes conceitos e os filmes?

E assim prosseguirá o debate.

Duração: 03 aulas.

III – LEITURA

Nessa aula, a professora apresentará aos alunos o autor a ser trabalhado, Moacir Scliar, fazendo uma breve explanação da sua biografia e suas obras. Em seguida, entregará aos alunos as cópias impressas da narrativa Bruxas não existem, de autoria do autor mencionado.

Primeiramente, a professora solicitará que os alunos façam a leitura silenciosa. Em seguida, a professora fará a leitura em voz alta. Será promovida uma roda de conversa. A professora fará as seguintes indagações:

  • O que vocês acharam do texto?
  • O que acontece na história?
  • A atitude do garoto e seus amigos tem relação com algo debatido na aula passada?
  • Por que o título “Bruxas não existem”? O título tem relação com os temas debatidos?

Durante esta roda de conversa os alunos irão expor o que entenderam e farão suas colocações sobre o poema lido. A professora pedirá aos alunos que façam uma releitura em casa e poderá sugerir que pesquisem textos sobre o tema (Sugestão: Empatia, por Marta Medeiros.

Duração: 02 aulas

IV –  INTERPRETAÇÃO

A professora retomará a discussão sobre o poema lido na aula anterior e em seguida pedirá aos alunos que façam a reescrita do texto, segundo a sua interpretação, através de um desenho coletivo da seguinte forma: serão entregues folhas em branco aos alunos. Os mesmos colocarão seu nome, iniciarão o desenho, e ao sinal dado pela professora (falando “já”, batendo palmas, ou parando uma música que esteja tocando), eles devem trocar de folha e continuar o desenho do colega, até o desenho ser concluído.

Dando continuidade às atividades de interpretação, a professora perguntará aos alunos se eles já vivenciaram uma situação parecida com a do personagem do texto ou se conhecem alguém que tenha passado por esta experiência. Concluída a conversa, a professora pedirá aos alunos que relatem tal experiência por meio de uma produção de texto.

Duração: 02 aulas

Outra sugestão de atividade:

  • Reescrita do texto modificando o final, como também o título.
  • Produção de uma pequena peça teatral sobre o poema.

 

SEQUÊNCIA DIDÁTICA: POEMA

I – MOTIVAÇÃO

Neste primeiro momento, a professora trará para a sala de aula a música “Os bichinhos e o homem”, de Vinícius de Moraes, juntamente com a cópia da letra. Depois que os alunos escutarem, a professora perguntará o que os alunos acharam da música e promoverá uma roda de conversa:

  • O que acharam da música?
  • Sobre o que a música fala?
  • O que diz o final da música? O que você sentiu ao cantá-lo?
  • Você percebeu algum teor de preconceito nesta música?

Ao final da aula, pedir aos alunos que tragam na próxima aula músicas com a mesma temática.

(A música a ser trabalhada fica a critério do professor. Outra sugestão: Diga não aos preconceitos, de McSilvinha)

Duração: 02 aulas

II – INTRODUÇÃO

A professora retomará a discussão da aula anterior. Em seguida perguntará quem trouxe outras músicas e pedirá que socializem, abrindo um novo momento de debate e retomando as palavras empatia e preconceito.

Duração: 02 aulas.

 III – LEITURA

A professora trará para a aula o poema “O bicho”, de Manuel Bandeira, no slide (se houver Datashow) ou escrito numa cartolina.

 Os alunos farão a leitura silenciosa e em seguida a professora lerá em voz alta. Após a leitura, a professora iniciará a roda de conversa acerca do poema lido:

  • Vocês já conheciam esse poema?
  • O que acharam dele?
  • Sobre o que ele fala?
  • O que nos revela o final do poema?

Duração: 01 aula.

IV –  INTERPRETAÇÃO

 Neste momento, a professora iniciará o debate com a seguinte pergunta: Qual a relação existente entre o poema “O bicho”, de Manuel Bandeira, e o conto “Bruxas não existem”, de Moacir Scliar? A professora fará um breve retrospecto e em seguida, solicitará aos alunos que produzam um pequeno texto a partir do tema proposto acima.

 

 

BIBLIOGRAFIA

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2. Ed., 6ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2016.

 

ANEXOS 

 

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Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de “bruxa”.

Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.

Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando “bruxa, bruxa!”.

Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse animal nós não sabíamos, mas logo descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da bruxa. O que seria fácil. Ao contrário do que sempre acontecia, naquela manhã, e talvez por esquecimento, ela deixará aberta a janela da frente. Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com muito esforço nós o levamos até a janela. Tentamos empurrá-lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina.

– Vamos logo – gritava o João Pedro -, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu. No momento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela, a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.

E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe, ninguém poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua fúria.

Em um momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha perna, e instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma habilidade surpreendente.

– Está quebrada – disse por fim. – Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim.

Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano, improvisou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha casa. “Chame uma ambulância”, disse a mulher à minha mãe. Sorriu.

Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e em poucas semanas eu estava recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em minha rua, uma senhora muito boa que se chamava Ana Custódio.

 

Os Bichinhos e o Homem

Vinícius de Moraes

 

Nossa irmã, a mosca
É feia e tosca
Enquanto que o mosquito
É mais bonito
É mais bonito

Nosso irmão, besouro
Que é feito de couro
Mal sabe voar
Mal sabe voar

Nossa irmã, a barata
Bichinha mais chata
É prima da borboleta
Que é uma careta
Que é uma careta

Nosso irmão, o grilo
Que vive dando estrilo
Só pra chatear
Só pra chatear

E o bicho-do-pé
Que gostoso que ele é
Quando dá coceira
Coça que não é brincadeira

E o nosso irmão carrapato
Que é um outro bicho chato
E primo-irmão do bacilo
Que é irmão tranquilo
Que é irmão tranquilo

E o homem que pensa tudo saber
Não sabe o jantar que os bichinhos vão ter
Quando o seu dia chegar
Quando o seu dia chegar

 

O bicho

Manuel Bandeira

 

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

              O bicho, meu Deus, era um homem              

 

 

 

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