Artigo: “OPINANDO O SERTÃO POR MEIO DA LINGUAGEM”

OPINANDO O SERTÃO POR MEIO DA LINGUAGEM

Aucilane Santos Aragão¹

(Licenciatura em Letras-Português pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL, campus do Sertão, unidade de Delmiro Gouveia – AL). 

  1. INTRODUÇÃO

As relações de poder desiguais estão imbricadas no modo de conceber e caricaturizar o Nordeste e o ser nordestino, as quais foram cristalizadas com o passar do tempo pela repetição de estereotipias, vindas de uma elite cujo interesse era o de receber financiamentos em nome de uma seca que por muito tempo foi atrelada às necessidades da população desta região.

Albuquerque Junior (2011) diz que os discursos atrelados ao Nordeste, ao perfil do sujeito nordestino e aos cenários “descritos” nas novelas da TV, nos discursos contidos nas obras literárias, acerca da região, dos noticiários sobre à seca, mostrados nos jornais, e tantos outros discursos que se aglutinam reforçam uma ideia de singularidade da região Nordeste e da identidade do ser nordestino no imaginário das pessoas.

Esse pesquisador expõe que o que há de comum em todos os discursos é a intenção de estereotipização que leva à exclusão e, consequentemente, marginaliza tanto a região quanto os sujeitos deste local, em que Albuquerque Junior em entrevista para o canal do Youtube “O que é que tá rolando?”, publicado em 2014, diz que esses discursos são repetidos culturalmente: na academia, na mídia e que ao pensar em fazer uma peça teatral, por exemplo, cai-se sempre nos discursos de estereotipia de lugar de atraso, sem cidades, de lugar pequeno em que todos se conhecem e que há a presença de coronel, de dona de bordel, do juiz de um padre, de lugar sem recursos algum que parece ter parado no tempo, pois não sai disso.

_________________________________

¹ Mestranda pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Campus Recife.

Ou seja, à medida que esses discursos são sustentados e reforçados desmerece-se uma cultura, pois uma heterogeneidade é substituída por um uma homogeneidade. Um povo tão diverso é forjado como um povo singular, com características iguais a todos e condicionados a “verdades” que foram naturalizadas por pura relação de poder desigual. O corpus desta pesquisa se constitui das falas da jornalista Raquel Sheherazad (2015) e do jornalista Diogo Mainardi (2014) e do empresário e político alagoano João Lyra (2014) acerca do recorte discursivo caricaturizado sobre o Nordeste e o perfil dos sujeitos nordestinos.

Pensou-se neste estudo como esses discursos estereotipados forjam a imagem de um Nordeste homogêneo, singular, unificado, ao invés de pluri-heterogêneo; notando também sempre uma comparação entre o Nordeste com o “outro” (Sul, Sudeste), entrelaçando uma relação de poder desigual. Para isso, faz-se uma análise enunciativo-discursiva do material, a fim de compreendermos os discursos (deterministas?) sobre a região Nordeste e os nordestinos, bem como analisar o EU e o OUTRO do discurso, as propostas de sentido lançadas e as inferências realizadas, entendendo à língua como um processo político, ideológico e interativo, fundamentado em Bakhtin (1929).

A Linguística Aplicada é o campo de saber indisciplinar que dá sustentação a investigação ora proposta, criando inteligibilidade na relação práticas discursivas versus práticas sociais, tendo como referencial teórico Moita Lopes (2006).

Albuquerque Junior (2011) diz que:

[…] falar do Nordeste é inventariar os muitos estereótipos e mitos que emergiram com o próprio espaço físico reconhecido no mapa, composto por alguns estados e cidades. É mobilizar todo o universo de imagens negativas e positivas, socialmente reconhecidas e consagradas, que criaram a própria ideia de Nordeste.

Isso é, o imaginário popular acerca do Nordeste e dos nordestinos é um recorte estereotipado, produzido e reforçado durante décadas através da literatura, de músicas, do cinema, teatro, novelas e pessoas influentes na mídia, ao retratar/construir um Nordeste de seca, da terra gretada, de miséria, da violência, do atraso, da subalternidade, de um povo preguiçoso, despreocupado, que faz piada de tudo, de homem valente, machista. Margareth Rago (2011, p. 16) diz que Albuquerque Junior “denuncia os mecanismos insidiosos do poder presentes nas configurações discursivas e envolvidos numa negociação em que ele diz que se paga um alto preço por uma forma particular de nascimento do Nordeste, que implica simultaneamente em aceitação e rejeição, em incorporação e exclusão”.

Os recortes caricaturescos sobre o Nordeste e o ser nordestino os reduzem, os colocando à margem, culminando em exclusão e preconceito por meio dos discursos que foram, pela repetição em diversas esferas políticas e midiáticas durante décadas, naturalizados, o que acaba gerando uma credibilidade aos estereótipos, pois há duas possibilidades de ver o Nordeste. No entanto, as escolhas pendem sempre para aquela que já é esperada, com discursos de um local ruralizado, pobre, de falar uno e engraçado, de festejos apenas folclóricos, da economia voltada exclusivamente à agricultura e ao artesanato, e do subdesenvolvimento, haja vista que há setores que ganham com essa imagem de Nordeste, uma vez que os estereótipos estão em volta de interesses financeiros que forjam toda uma realidade, que é construída com discursos que a estigmatizam, colocando-a à mercê da sociedade.

Porém, sabemos que “os nordestinos são efeitos das práticas discursivas e não-discursivas que os integram na cultura e na instituição do social e que, portanto, em muitos momentos, devem ser eles mesmos explicados mais do que ser fonte de toda interpretação verdadeira” Albuquerque Junior (2011). Isto é, o Nordeste e os nordestinos são “reflexos” dos discursos estereotipados que as esferas políticas e midiáticas propagam, bem como as demais esferas de comunicação. Estes discursos são tão naturalizados que os próprios sujeitos nordestinos se reconhecem dentro dessa caricatura imagética. As falas de Sheherazade e João Lyra, ambos nordestinos, mostram esse discurso cristalizado, internalizado que reforçam esse recorte imagético sobre a região pela influência que possuem no âmbito social.

Os discursos deterministas dos jornalistas e do político alagoano passam por uma relação de poder, uma vez que discursos propõem sentidos que estão filiados a interesses, demarcados histórica, cultural, ideológica e socialmente, haja vista que os sujeitos falam de algum lugar e para alguém, compreendendo os sujeitos, a lá Bakhtin, como sujeitos “situados” em um dado espaço social. Dessa forma, são também os discursos.

Metodologicamente, este estudo está alicerçado na Linguística Aplicada, ciência pós-moderna, caracterizada como um campo de saber indisciplinar, transdisciplinar, e, portanto, autônomo; advogada como uma “prática problematizadora”, uma vez que olha para o objeto em/com toda a sua complexidade. Não é uma disciplina que possui conhecimentos segmentados, mas um campo que agencia conhecimentos de diversas áreas, criando inteligibilidade sobre a vida social, construindo novos saberes. Logo, está pesquisa agencia conhecimentos da Geografia, História e Linguagem, criando inteligibilidade ao produzir novos saberes (des) construindo sentidos sobre a região Nordeste e os sujeitos nordestinos. O objetivo de estudo da LA é analisar/interpretar como as práticas discursivas organizam as práticas sociais e vice-versa. Desta forma, analisou-se como os discursos caricaturescos repletos de estereótipos sobre a região Nordeste e o nordestino foram inventados e naturalizados de forma tal que este espaço foi demarcado geodiscursivamente e esta gente foi homogeneizada histórica, cultural e discursivamente.

Deste modo, a LA concebe a língua como uma atividade dialógica e interativa, isto é, teoriza que não representamos o mundo quando usamos a língua (gem), mas o construímos a partir dos usos e escolhas linguísticas que fazemos relacionados com o contexto social em que os falantes estão inseridos. Portanto, a língua não é um instrumento de comunicação, mas um processo interativo, constituído por um EU, um ELE e pelo OUTRO.

Assim, o EU possui um perfil psicossocial, que significa que ele é ativo no processo de interação, e que, assim como o EU, o OUTRO também é ativo no processo de construção dos sentidos. Isso significa que o EU faz uma proposta de sentidos, lança pistas, e o OUTRO faz inferências a respeito destas, levantando hipóteses que podem ser iguais, semelhantes ou distanciadas da proposta, haja vista que o OUTRO não é receptor nesse processo, mas ativo, isto é, é partícipe da construção dos sentidos a partir das suas próprias categorias cognitivas. Logo, os sentidos estão imbricados em um contexto histórico, social, ideológico, cultural em que os sujeitos estão situados.

Neste sentido, o distanciamento de sentidos que muitas vezes ocorre da interpretação do OUTRO em comparação com as pistas inferidas pelo EU depende do contexto em que estão inseridos. Ou seja, os sentidos não são dados desde o momento da enunciação, mas construídos. Por isso, enunciamos na tentativa de construir o mundo, e não, representá-lo. Logo, percebe-se que as escolhas linguísticas realizadas pelos falantes não são neutras, haja vista que enunciamos de um lugar histórico, cultural, religioso, ideológico e social, compreensão que parte da abordagem bakhtiniana de que somos sujeitos situados e que, portanto, quando fazemos determinadas escolhas estamos excluindo outras possibilidades, uma vez que a língua é também política.

A Linguística Aplicada se filia ao paradigma interpretativista, abordagem epistemológica de análise do objeto, em que há uma aproximação deste com o pesquisador e com o meio interacional. Leva-se em consideração as subjetividades do objeto estudado em toda a sua complexidade, já que os sujeitos são situados histórico e socialmente, sendo este ativo, e não passivo, em todo o processo.

A abordagem metodológica da LA se dá por meio da leitura enunciativo-discursiva, tendo como base teórica as contribuições de Bakhtin, considerando quem é o EU, o ELE e o OUTRO do discurso, partindo do princípio que a língua é uma atividade interativa e ninguém escreve ou fala para todo mundo, mas que há sempre um direcionamento e que os sentidos não estão dados, mas são construídos. É possível analisarmos as construções morfológicas, sintáticas e semânticas das palavras em foco, pensando em um gênero discursivo e analisar os recursos visuais, textuais e semióticos, se houver, tendo em vista que nada é posto por acaso. Ou seja, interpretar tudo o que pertence ou está relacionado ao gênero discursivo, além de identificar onde o texto está circulando, com quem ele fala e para que fala, a fim de construir os sentidos e pistas lançados e interpretá-los de forma crítica.

No caso do corpus desta pesquisa – constituídos de falas da jornalista Raquel Sheherazade e do jornalista Diogo Mainardi e do político João Lyra, discursos disponíveis on-line – analisamos os discursos (deterministas?) atrelados à região Nordeste e aos sujeitos nordestinos, entendendo o lugar histórico e social aos quais esses discursos começaram e continuam sendo reforçados por décadas, compreendendo a naturalização destes e os efeitos sociais que estes discursos possuem sobre este local e sobre estes sujeitos, tendo em vista o apagamento da multiplicidade destes, caracterizado por uma homogeneidade.

  1. “OPINANDO O SERTÃO”

Analisou-se o corpus, constituído de três falas da jornalista Raquel Sheherazade e do jornalista Diogo Mainardi e do político alagoano João Lyra, no gênero artigo de opinião, aqueles através de áudio veiculado na Jovem Pan e um vídeo disponível no Youtube, respectivamente – todos de circulação em instrumentos midiáticos.

Raquel Sheherazade é jornalista da emissora de televisão Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) e atuou também como radialista âncora do jornal matinal da rádio Jovem Pan entre 2014 e 2015. No Áudio do ano de 2015 da Jornalista Raquel Sheherazade, transmitido pela rádio Jovem Pan, disponível em seu site, a respeito da seca do Nordeste, em comparação com a seca sofrida pelo Sudeste. O site denominou a matéria de “Rachel Sheherazade fala sobre a seca no Nordeste”

No áudio, de 2min54seg ela diz:

Racionamento de água em São Paulo, volumes mortos no Rio, torneiras secas em Minas. Guardadas às devidas proporções, o Sul maravilha vive agora drama semelhante à estiagem histórica do Nordeste. E é exatamente sobre a seca no Nordeste que eu quero falar, porque desde os esvaziamentos das torneiras no abastar do Sudeste, a mídia esqueceu-se completamente da estiagem perene do outro lado do país. E falo sobre a seca no Nordeste, porque ela é mais grave, porque ela é mais antiga, porque ela é mais injusta, porque ela é mais negligenciada. Ao contrário do Sudeste, a falta de água no semiárido nordestino não é um problema transitório, é uma catástrofe constante, que castiga há séculos o sertanejo e condena todo uma região ao sofrimento, a humilhação e ao atraso econômico. Em 1877, olha só, o imperador Dom Pedro II com a hipocrisia típica dos poderosos, chegou a dizer que venderia joias da Coroa para acabar com o sofrimento dos nordestinos. Desde a realeza até a república, muitos foram os governantes que se valeram da retórica da seca pra manipular os incautos, chegar ou se manter no poder. Políticos de todos os escalões, coronéis locais à presidentes da república, fizeram da seca do Nordeste, uma industria. Dos miseráveis, sua mão de obra; dos analfabetos famintos e sedentos, o seu curral eleitoral. Para curar o mal da seca, os políticos prometeram todo tipo de remédio, de cacimbas a carros-pipas, todos inócuos. Até a faraônica transposição do São Francisco, a maior promessa de campanha do então candidato Lula, ficou pelo meio do caminho. E há doze anos só serve para enriquecer empreiteiras, políticos e burocráticos corruptos. Desde que a obra saiu do papel, o orçamento da transposição mais que duplicou, e o pior, não há expectativa de conclusão, hein? Lula foi o terceiro nordestino a ocupar a presidência da república desde a redemocratização do país. Quando menino sentiu na pele o flagelo da seca, teve dois mandatos pra cumprir a promessa que fez aos conterrâneos que os elegeu: acabar com a seca no Nordeste. Deixou o sonho virar poeira. O ex-retirante, que virou presidente da república, preferiu o assistencialismo à conta gotas a levar água para o Sertão.

A jornalista inicia sua fala citando uma sequência de acontecimentos em relação a falta de água ocorridos no Sudeste, que, equivocadamente, ela diz que é no Sul, para então comparar à região Nordeste, em que Sheherazade diz que vai se referir “exclusivamente” a esta região, restringindo o seu discurso apenas à região supracitada. Albuquerque Junior (2011) diz que os discursos de estereotipias são sempre produzidos em comparação com o Outro, neste sentindo, o Nordeste construído como seco, rural e retrogrado é sempre comparado com o Sudeste, construído como tecnológico, desenvolvido, moderno. Portando, ela continua a comparação dizendo que desde a estiagem “no abastar do Sudeste” a mídia esqueceu-se “da estiagem perene do outro lado do país” – Nordeste – A preposição no, fusão de em + o, está indicando o lugar em que ocorreu a estiagem; já a preposição de está indicando uma característica típica, própria da região Nordeste, reforçando a estereotipia naturalizada de seca em toda a região. Outro equivoco da jornalista foi quanto ao uso linguístico “estiagem perene”, pois há socialmente uma relação de antonímia entre ambas, em que o termo “estiagem” é relacionado a ínfimas ocorrências de chuva e “perene” é relacionado com a presença de água. No entanto, a jornalista utiliza o termo perene não como substantivo, mas como adjetivo, caracterizando a estiagem, sendo que ambos se distanciam semanticamente. Pelo fato de a língua, além de estrutura, ser social, os sentidos dos usos linguísticos só é construído a partir das pistas dadas pelo Eu se o Outro do discurso comungar, do mesmo conhecimento de mundo. Neste caso, socialmente “perene” não possui relação de caracterizar “estiagem”, pois, não há uma arbitrariedade acordada na sociedade ou em determinado grupo que comungue da relação de sentido de ambos os termos, haja vista que a língua é estrutura, mas também social, isto é, os usos linguísticos dos falantes se dão na interação dialógica entre os falantes.

Sheherazade diz que fala sobre a “seca no Nordeste, porque ela é mais grave, porque ela é mais antiga, porque ela é mais injusta, porque ela é mais negligenciada”. Ou seja, ela toma uma sub-região, o sertão/semiárido, como se fosse todo o Nordeste, quando sabemos que geograficamente o Nordeste é dividido em quatro sub-regiões e estas são heterogêneas, possuem especificidades distintas uma das outras. Entretanto, nos discursos enraizados de “Nordeste da seca” há um apagamento das demais sub-regiões e uma visibilidade ao Sertão, caracterizado em sua geografia como seco e com baixos níveis de água, bem como de irregularidade de chuvas. Tanto o apagamento das sub-regiões zona da mata, agreste e meio-norte, quanto a visibilidade da sub-região sertão são frutos de discursos que caricaturizam e demarcam uma região inventada discursivamente devido a interesses que são situados histórica, cultural, ideológica, política e socialmente.

Por conseguinte, há uma relação endógena entre semiárido, sertão e Nordeste, haja vista que ao forjar imageticamente uma realidade sobre a região supracitada, que não é real, demarcando geodiscursivamente este espaço por meio dos discursos deterministas de autoridade, como dos jornalistas Sheherazade e Mainardi e do político alagoano João Lyra, construindo que o território nordestino é a região da seca e da terra gretada, no entanto esta é uma inverdade que foi cristalizada pela repetição há décadas, uma vez que a sub-região Zona da Mata possui uma costa litorânea de clima tropical úmido, que abrange uma boa parte do agreste, em que os índices pluviométricos são altos, apesar da área extensa ao norte do Nordeste, a sub-região sertão, que dispõe de um clima semiárido, onde se encontra o polígono da seca, no qual as concentrações pluviais são baixas e as chuvas são irregulares. Entretanto, esta característica física do sertão não retrata toda área demográfica que é o Nordeste como um lugar totalmente seco. Oliveira (2016, p.33) pontua que:

O Nordeste/Sertão é construído como o espaço regional que denota a infertilidade proveniente da terra rachada, das folhas secas, caídas no chão, em que plantas sobreviventes são apenas o cacto, o mandacaru, o umbuzeiro, devido conseguirem adaptar-se e sobreviver à seca. Ou seja, é uma região construída por estereotipias, nos quais estes discursos estão filiados a um “discurso determinista”, em que vai havendo a repetição destes discursos e mantendo/reforçando estes estereótipos sobre essa região.

Sheherazade, mais uma vez, compara as regiões Sudeste e Nordeste, dizendo que “Ao contrário do Sudeste, a falta de água no semiárido nordestino não é um problema transitório, é uma catástrofe constante, que castiga há séculos o sertanejo e condena todo uma região ao sofrimento, a humilhação e ao atraso econômico”. Ou seja, a jornalista reforça que todo o Nordeste é seco, quando na verdade esta é uma inverdade, forjada/inventada socialmente por pura relação de interesses e poder. Abaixo, o mapa da divisão do Nordeste em sub-regiões, a fim de levar-nos à compreensão de que o Nordeste não é apenas sertão, mas constituído por outras três sub-regiões, as quais se diferenciam do seu aspecto climático de seca, construído socialmente como sendo toda a região.

Figura 01: Mapa do Nordeste – Sub-regiões

mapa

Fonte: slide player, 2014

Geograficamente, a região Nordeste é dividida em quatro sub-regiões: zona da mata, agreste, sertão e meio-norte. Mas, nos discursos deterministas toda a região Nordeste é tomada como sertão, sub-região caracterizada com o índice de chuvas mais mal distribuídas e irregulares, além de baixos índices pluviométricos, justamente devido aos discursos forjados sobre uma região unívoca, construída discursivamente. As demais sub-regiões são apagadas nesses discursos de “seca e miséria que assola a região Nordeste”.

O discurso da jornalista não é novo, pelo contrário, é repetido por décadas; discurso no qual o Nordeste é extremamente seco e sua gente é miseravelmente pobre. Contudo, essa é uma generalização que não corresponde aos fatos. Ela justifica seus argumentos pondo a culpa na “seca” e no “negligenciamento” político, ao listar historicamente governos que não contribuíram com políticas de desenvolvimento para a região, afirmando que o “prometeram” fazer, não cumpriram, citando, por exemplo, o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, pelo não acabamento da obra da transposição do Rio São Francisco, em seu mandato.

Sheherazade diz que desde o Império, governantes usam da “retórica da seca” para chegar ou se manter no poder. Ou seja, este fenômeno da natureza é discursivamente construído para sustentar uma indústria que corrobora numa relação de poder, dos influentes politicamente e dos nordestinos, não necessariamente sertanejos, haja vista que o Nordeste é imageticamente recortado como sendo apenas sertão. Ou seja, ela reconhece que há uma “indústria da seca” nos discursos políticos e midiáticos, no entanto omite que esta é resultado de estereotipias que coloca este local e toda a sua gente em um espaço discursiva e socialmente marginalizado ao tomá-los como verdades, mas reforça estas caricaturas estereotipadas quando propaga este recorte imagético sobre o Nordeste.

As estereotipias de seca, miséria e subalternidade atreladas ao Nordeste foram repetidas e reforçadas, não apenas nos discursos políticos; mas também nas produções culturais como as canções que constroem discursivamente um espaço de seca; no teatro e na TV, quando se faz uma construção do sujeito nordestino  de falar caipira, de trabalho manual, de economia voltada a área rural e artesanal, ao construir um nordestino retirante, de lugar de atraso, com meio de transporte o pau-de-arara e carroça; na pintura e na literatura, construindo um Nordeste e nordestinos  homogêneos, unos, de cultura apenas folclórica, imagens estas que ao falar de Nordeste e dos nordestinos vêm primeiramente no imaginário popular.

Albuquerque Junior (2011) diz que as obras de artes sobre o Nordeste são tomadas como discurso, uma vez que elas têm ressonância em todo o social e que elas são máquinas de produção de sentidos e de significados. Logo, o Nordeste foi inventado no cruzamento de práticas e discursos, bem como dos sucessivos deslocamentos em que a imagem e o texto desta região sofrem.

O discurso de Sheherazade dialoga com tantos outros discursos que constroem discursivamente, por meio de aspectos ideológicos, culturais, políticos e sociais, uma região de temperatura escaldante e de um povo sofrido que só terá sua salvação com o olhar dos governantes financiando e promovendo políticas que combatam estrategicamente as consequências da “seca”.

A fala de Sheherazade dialoga com a do também jornalista Diogo Mainardi acerca da região Nordeste. No vídeo, disponível no Youtube, intitulado de “Diogo Mainardi: Eleição da Dilma e Nordeste – 27/10/2014”, em entrevista com o jornalista Lucas Mendes, ao programa “Manhattan Connection”, Mainardi fala a respeito da relação entre a região Nordeste e as eleições após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Segue a descrição das falas:

Lucas Mendes – …O papel da imprensa antes das eleições. Você acha que essa relação de atrito vai continuar?

Diogo Mainardi – Vai piorar. Você perguntou pro Ricardo sobre o país do futuro, Essa eleição é a prova de que o Brasil ficou no passado, não é nem bolsa família, não é nem marquetagem. O Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação ao poder, durante a ditadura militar, depois com reinado do PFL e agora com o PT, é uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem uma grande dificuldade de se modernizar. Se modernizar na linguagem, se modernizar na… A imprensa é livre, a liberdade de imprensa é um valor que vale metade do Brasil pra baixo, e nessa metade do Brasil pra baixo onde a Dilma é minoria, e uma pequena minoria. Eu sou paulista antes de ser brasileiro, neste momento são 66% de paulistas que votaram contra ela, é todo mundo empresarial, é todo mundo, é a economia brasileira inteira votando contra esse partido, toda imprensa. O conceito da liberdade de imprensa não tá do lado dela, então, tudo que representa a modernidade, tá do outro lado, então, ela não pode jogar uma ponte tão facilmente assim.

Lucas Mendes – Mas o Nordeste não cresceu mais do que outras partes do Brasil?

Diogo Mainardi – Eu suponho que sim, quer dizer, quando você sai da miséria esse salto você pode distribuindo um dinheirinho. Não é… O país tem que dar um salto, o país é pobre de qualquer maneira, o país como um todo é pobre, se o país não der esse salto, se a gente entrar num cenário de fuga de capitais, ou num cenário de pouco investimento produtivo, de desconfiança do empresariado, estrangeiro, sobretudo, em relação ao Brasil, vai faltar dinheiro, já está ficando muito curto, vai faltar dinheiro pra continuar com uma política social que é correta, que é necessária.

Na fala inicial de Diogo Mainardi, percebe-se uma relação entre a região Nordeste e a política, também percebida na fala da jornalista Raquel Sheherazade. Ele diz que o “Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno” e argumenta dizendo que isso se dá via poder político “durante a ditadura militar, depois com reinado do PFL e agora com o PT”, e que por isso se constitui como “uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem uma grande dificuldade de se modernizar”. Albuquerque Junior (2011, p. 33) diz que o Nordeste nasce onde se encontram poder e linguagem. Logo percebe-se a construção discursiva de uma região atrasada devido a escolhas políticas erradas e do não-olhar dos governantes para problemas que foram construídos devido a interesses de uma elite, que, segundo Albuquerque Junior, em entrevista em vídeo publicado em 27 de maio de 2014, no canal no Youtube “O que é que tá rolando”, se sente confortável numa posição de subalternidade, desde que seja financiada, ainda que esta subalternidade coloque a região à margem em comparação com o outro e disseminando inverdades.

Mainardi diz que é “paulista antes de ser brasileiro” e citando a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff argumenta que São Paulo votou em sua maioria contra a reeleição dela, dizendo que São Paulo é moderno e a modernidade é contra tal política, dizendo que:

(…) neste momento são 66% de paulistas que votaram contra ela, é todo mundo empresarial, é todo mundo, é a economia brasileira inteira votando contra esse partido, toda imprensa. O conceito da liberdade de imprensa não tá do lado dela, então, tudo que representa a modernidade, tá do outro lado.

Assim, reforça a estereotipia de Nordeste (região que (re) elegeu em grande massa a presidenta) retrógrado, atrasado, subalterno, caipira, que tem “grande dificuldade de se modernizar na linguagem”.

Desse modo, as falas dos jornalistas acima demarcam uma relação de poder discursivamente nos discursos sobre o Nordeste e o ser nordestino construídos a partir de interesses políticos ao relacionar a região supracitada com a política. As falas revelam que os estereótipos são construídos como verdades e estas são efeito das próprias escolhas políticas dos sujeitos nordestinos, haja vista que a região é a segunda mais populosa do país e nas eleições tem grande chance de eleger quem quiser, ao contrário do Sul.

Dialogando com as falas dos jornalistas, segue o artigo de opinião do empresário e político alagoano, João Lyra, a fim de analisarmos como os discursos de estereotipias são reforçados em sua fala e em que ponto se junta aos dois jornalistas ao construir um Nordeste que necessita de um olhar político mais afinco do que as demais regiões, sendo construído discursivamente como seco, miserável e retrogrado.

Figura 02: Artigo de Opinião, escrito por João Lyra e publicado no Jornal da Tribuna Independente acerca do Nordeste

artigoFonte: Gazeta de Alagoas, 2015

João Lyra é formado em advocacia; empresário, fundador do grupo econômico Lyra, situado em Alagoas; e político do mesmo Estado. É influente no meio social, transitando em esferas desde a jurídica e econômica à política. O artigo de opinião é caracterizado como:

(…) um gênero jornalístico veiculado principalmente em revistas e jornais e, como todo texto opinativo, utiliza-se da argumentação para avaliar e opinar em relação a uma questão proposta anteriormente, servindo de suporte para expressar o ponto de vista concernente ao articulista. Nesse gênero, a tipologia textual básica é dissertativa, pois o autor constrói uma opinião e cada parágrafo subsequente contém um argumento que dá suporte à conclusão geral (SILVA, 2013, p.6).

O Artigo de Opinião denominado de “A hora e a vez do Nordeste”, escrito por João Lyra, empresário e político alagoano, foi publicado no jornal “Tribuna Independente”, na esfera jornalística, em 23/11/2014. O texto é visão/entendimento de Lyra quanto às possibilidades e/ou oportunidades de desenvolvimento da região Nordeste. O título situa o leitor em um local, o Nordeste, e diz que chegou sua hora e sua vez. Ainda segundo Silva (2013, p. 7), “o artigo apresenta um problema, discussão e avaliação”. O problema apresentado no artigo deste corpus é a eleição presidencial, discutida e argumentada por Lyra como a oportunidade de um olhar para o Nordeste ser promovido com políticas públicas e sociais com a reeleição do Partido dos Trabalhadores (PT) na presidência da república.

No decorrer do texto, o empresário-político reforçar a imagem de um Nordeste que está no imaginário das pessoas, como um lugar de abandono e, consequentemente, de atraso, que foi construída e cristalizada discursivamente, segundo Albuquerque Junior (2011).

 João Lyra fala da necessidade do olhar político para o desenvolvimento contínuo da região.  O político diz que todo o Brasil vê o Nordeste em crescimento graças ao êxito das políticas de desenvolvimento atreladas ao Nordeste. Ele diz que graças à Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) a região alavancou na economia. A partir daí o empresário vai traçando os avanços da região na economia local e a contribuição desta na economia nacional, reforçando as relações de poder que dão lugar aos diversos estereótipos à região diante da relação de poder posta entre “necessidades urgentes de combater a seca” com a política, em que nesta relação os olhares são voltados exclusivamente à industria da seca, que foi produzida discursivamente devido a interesses político-econômicos demarcados discursiva e socialmente.

Ele caracteriza a economia como diversificada e vai citando instâncias que estão se desenvolvendo com sucesso, tais quais: as atividades agriculturais, produzidas em larga escala, a melhoria da pecuária, a diversidade de segmentos que se tem no parque industrial do Nordeste, as atividades de comércio e serviço, os saltos da tecnologia de informação e comunicação (tics) na região e a evolução do turismo. Depois de citar os avanços na economia, João Lyra pontua sobre a vitória maciça da presidenta Dilma Rousseff nas eleições no Nordeste e diz da responsabilidade dos gestores locais se aglutinarem para buscar a criação de políticas que possibilitem ainda mais a abertura das portas para que a região continue em ascensão.

O empresário termina o texto recuperando o que diz no título, destacando que essa é a hora e a vez de o Nordeste se reencontrar politicamente, e que assim todos esperam, pontua. Percebe-se no texto um discurso de estereotipia que está arraigado nas relações de poder de forma muito explícita. Albuquerque Jr. (2011) relata que o Nordeste e os nordestinos são invenções de determinadas relações de poder e que essa região nasce onde se encontram poder e linguagem, ou seja, os estereótipos que foram construídos no imaginário das pessoas estão atrelados a estas relações que foram construídos política e discursivamente com interesses demarcados. Estratégia utilizada na estrutura do gênero, que Silva (2013, P.8) diz que “o parágrafo final acarretará o fechamento e a conclusão do autor, podendo apresentar uma breve retomada ao assunto principal e sua posição definida claramente no texto”.  Neste caso, a (re) afirmação da oportunidade política de desenvolvimento do Nordeste com a (re) eleição da presidenta.

A fala de João Lyra acerca do Nordeste é um discurso que Albuquerque Jr. (2011) chama de naturalizado/cristalizado, devido à repetição por décadas de estereótipos de um espaço geográfico necessitado de um olhar político que foi esquecido pelos poderosos, e, portanto, vive em atraso, sem desenvolvimento e qualidade de vida. Logo, precisa do olhar e ajuda governamentais, a fim de promover políticas de desenvolvimento para a região. Estratégia da elite para conseguir recursos em nome de uma seca que não dilacera uma região inteira como os discursos enraizados são propagados, mas uma parte que está longe de ser o todo.

No discurso do político alagoano é citado a ascensão econômica do Nordeste, contudo, essa ascensão está relacionada a políticas partidárias de desenvolvimento à região. Logo, a indústria da seca também é reforçada em seu discurso que demarca geográfica, social, cultural e politicamente um espaço inventado, forjado devidos a interesses; construídos argumentativamente no decorrer do texto, como citado acima, a fim de “persuadir” o Outro/leitor do jornal. Silva, (2013, P.8) pontua que “o público leitor desses artigos geralmente são pessoas que gostam de se manterem atualizadas, relacionadas constantemente com aspectos midiáticos e interessadas em perceber os acontecimentos atuais”.

  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como estudado, o Nordeste é visto de forma estereotipada nos discursos circulados nas esferas jornalística e política de modo a unificar uma região e um povo pluri, multi. Estas caricaturas não são neutras ou propagadas ingenuamente, mas de forma pensada, por via de interesses que são discursivamente construídos. Estes marginalizam este espaço e esta gente, uma vez que há uma relação de poder nessa construção imagética em que é realizada por meio de uma comparação com o outro, visto o Nordeste em relação de comparação ao Sul e Sudeste e os nordestinos em relação de comparação com os sulistas.

Cabe aqui ressaltar que estes discursos continuam sendo propagados, principalmente pelas esferas midiática e política, mas que discursivamente há a possibilidade da quebra destes estigmas, embora ele não seja o mais comum, principalmente na TV, no cinema e no teatro, devido à espera do público pelo lugar comum, do já-dito. As relações de poder estão imbricadas nas relações discursivas e forjam uma realidade que não existe ao disseminar que o Nordeste é rural e retrogrado, quando na verdade é a região que mais cresce economicamente. Mas estas inverdades continuam sendo reforçadas devido ao jogo de interesses com a produção de uma imagem negativa sobre este lugar e sobre esta gente. Em entrevista para o canal do Youtube “Programa Diversidade”, da Universidade Federal de Campina Grande –UFCG, publicado no dia 05 de outubro de 2011, Durval Muniz de Albuquerque Junior diz que há dois caminhos e sempre a escolha está para aquela já esperada. Nesse caso, os discursos estereotipados sobre um Nordeste de atraso, ruralizado, retirante, de falar uno, de vegetação apenas seca e de festejos apenas folclóricos, posto que há setores que vivem de reproduzir indiscriminadamente estes discursos e da exploração desta imagem sobre a região e os nordestinos.

Desconstruir que o Nordeste não é só sertão, que os nordestinos não são todos sertanejos, que o meio de transporte nesta região há muitas décadas não é mais o carro de boi ou o pau-de-arara, que os nordestinos só trabalham na roça quando na verdade o Nordeste deixou de ser apenas agrário faz tempo; é importante quebrar com estas marginalizações, pois apesar de serem inverdades, são criações imagéticas para uma exclusão em relação a comparação com o outro, uma relação de poder desigual.

Estes estigmas são consagrados devido a repetição dos discursos estereotipados e da propagação deste em veículos de influência social, bem como do discurso de pessoas influentes nas várias instâncias sociais. No entanto, é necessário para (re) pensarmos as relações de poder vistas nesta pesquisa nas esferas jornalística e política, mas que permanece também em outras esferas. Oliveira (2016, p.26), diz que:

Nos dias de hoje ainda encontramos discursos que circulam em muitas esferas da atividade humana, presentes, sobretudo, na esfera política, pois como o dever do governo é garantir a organização da sociedade e o bem-estar do povo, tais sujeitos buscam se construir como sujeitos compromissados com as sociedades em que estes são responsáveis em exercer o seu governo. Assim, tais sujeitos se constroem e se marcam para si e para o outro como preocupados e compromissados com o próximo, ou seja, o “outro” do discurso, que nesse caso, trata-se dos eleitores. No entanto, estes discursos são estratégias, são tentativas de produção de sentido, em que os sujeitos buscam por meio das escolhas linguísticas alcançar determinados efeitos de sentido.

Portanto, é saliente discutirmos sobre como os discursos de autoridade, em textos opinativos, tanto podem elevar determinada região, o Sudeste, por exemplo nestas falas, como pode levar à marginalização, propagando inverdades que foram e são naturalizadas pela repetição dos discursos deterministas, como é o caso da região Nordeste.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez, 2011.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Gênero, o nordestino, a masculinidade, identidade e cultura [Entrevista]. O que é que tá rolando? Com Durval Muniz. (28’34”). WebTvUnebJuazeiro. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=Vq1Gfrjd5Ic >.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. O Nordeste e suas invenções [Entrevista]. Entre um café, uma prosa com Durval Muniz – Parte 1. (20’05”) RTV Caastinga Univasf. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=j74HtEJS48U >. Acesso em 20 de julho de 2016.

BRAIT, Beth. O texto nas reflexões de Bakhtin e do Círculo. In. Ronaldo de Oliveira Batista (Org.). O texto e seus contextos. São Paulo: Parábola Editorial, 2016, p. 13-30.

FABRÍCIO, Branca Falabella. Linguística aplicada como espaço de “desaprendizagem” – redescrições em curso. In. Luiz Paulo da Moita Lopes (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006, p. 45-65.

MAINARDI, Diogo. Diogo Mainardi: Eleição da Dilma e Nordeste – [Entrevista]. Manhattan Connection, 27/10/2014.  Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=MRC-SPPSJOE>. Acesso em 03 de Agosto de 20116.

OLIVEIRA, Cristiana Soares de. Nordeste/Sertão – construção: uma questão de poder. In. Cristiana Soares de Oliveira. Sertão em outdoor: discurso político e relações de poder [Trabalho de Conclusão de Curso). Ufal: Delmiro Gouveira, 2016, p. 22-34.

SHEHERAZADE, Raquel. Rachel Sheherazade fala sobre a seca no Nordeste [Áudio]. Jovem Pan. 2015. Disponível em <http://jovempan.uol.com.br/opiniao-jovem-pan/comentaristas/rachel-sheherazade/rachel-sheherazade-fala-sobre-seca-no-nordeste.html>. Acesso em 3 de Agosto de 2016.

SILVA, Giovane Silveira da. O estatuto da argumentação no gênero artigo de opinião. Revista Crátilo. Dezembro, 2013

 

Sequência Didática: “Do encantado ao real: Decisões que acompanham o nosso caminho”

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS

Fabiane Lima Santos

SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS

 

Sequência Didática: “Do encantado ao real: Decisões que acompanham o nosso caminho”

Fabiane Lima Santos

Apresentação

A presente prática de ensino de literatura foi desenvolvida como requisito para aprovação na disciplina Leitura do Texto Literário, ministrada pela profa. Dra. Jeane de Cássia de Nascimento Santos, membro do mestrado Profissional em Letras, Campus Prof. Alberto Carvalho – Itabaiana/SE.

O presente trabalho traz a sequência didática básica, uma das duas sequências propostas por Cosson (2016) em “Letramento literário: teoria e prática”, constituída por quatro etapas: motivação, introdução, leitura e interpretação. A proposta é oferecer o letramento literário, a partir de atividades que envolvam a participação e a reflexão do aluno, de maneira que compreenda a importância da leitura de diferentes gêneros textuais para a sua formação acadêmica e cidadã.

Objetivos gerais:

  • Apresentar o gênero literário conto, a partir de suas características bem como discutir as temáticas abordadas em “Fita verde no cabelo” de Guimarães Rosa.

Objetivos específicos:

  • Despertar o prazer pela leitura;
  • Produzir o gênero conto, a partir da releitura da narrativa “Chapeuzinho Vermelho” escrita por Charles Perrault/Irmãos Grimm;
  • Desenvolver postura crítica frente às questões abordadas.

Gênero: Conto

Tema: A tomada de decisões e suas consequências

Público-alvo: 3º ano do ensino fundamental

Recursos: Computador, internet, site de compartilhamento de vídeos (youtube), folha A4, papel madeira, lápis de cor, lápis grafite, lousa, marcador de quadro branco e cola.

  1. MOTIVAÇÃO

1ª Aula – 50 minutos

Iniciar com o vídeo da narrativa “Chapeuzinho Vermelho”. Link do vídeo: https://youtu.be/DNC-6-qhJ-s

Após assistir ao vídeo, o professor conversará sobre a possibilidade de releitura do conto “Chapeuzinho Vermelho”. Em seguida, solicitará que os alunos escrevam em uma folha de papel características dos personagens diferentes da versão original. Os alunos dirão as características e o motivo da sua escolha. Depois, será confeccionado um cartaz em papel madeira com as características escolhidas pela turma. O cartaz será fixado na parede da sala, ilustrado com desenhos feitos pelos alunos.

A finalidade da atividade é permitir que os alunos comparem as personagens criadas por eles com as personagens do conto “Fita verde no cabelo” de Guimarães Rosa.

  1. INTRODUÇÃO

2ª Aula – 50 minutos

Será apresentado o conto “Fita verde no cabelo” de Guimarães Rosa. Inicialmente, o professor mostrará a capa da obra, o título, as cores das ilustrações e um pouco sobre o autor. Em seguida, cada aluno poderá manusear o livro antes de iniciar a leitura.

1

III. LEITURA

3ª Aula – 50 minutos

Será realizada a leitura do conto em voz alta pelo professor. A leitura será realizada até o momento em que a menina escolhe o caminho mais longo para chegar à casa da vovó.

Em seguida, haverá debate sobre as possíveis consequências da ação da personagem em escolher o caminho mais longo para chegar à casa da sua avó. Nesse momento, será possível realizar comparações entre as decisões tomadas pela personagem e pelos alunos em situações da vida real.

A finalidade da atividade é levar os alunos a refletirem sobre as decisões tomadas no seu cotidiano e as possíveis consequências.

  1. INTERPRETAÇÃO

4ª Aula – 50 minutos

Após realizar a leitura do texto, serão discutidas algumas questões:

– O que significou para a personagem a perda da fita verde?

– Como a personagem se sentiu quando viu sua avó no leito de morte?

– Você acha que a personagem fez a escolha certa?

– Você tem medo da morte? Por quê?

5ª Aula – 50 minutos

Será realizada uma adaptação da atividade “Mudando a história” proposta por Cosson (2016). O professor dividirá a turma em dois grupos, informará a possibilidade de alterar qualquer parte da história e acrescentar novas personagens que podem ser os próprios colegas de sala. O primeiro grupo pensará na manutenção ou retirada de personagens e o segundo, na construção do novo final.

Em seguida, o professor gravará a nova história criada pela turma e pedirá para a direção da escola divulgar o áudio no facebook da instituição de ensino.

Sequência Didática: “Sai para lá, seu Medo…”

Fabiane Lima Santos

Apresentação

A presente prática de ensino de literatura foi desenvolvida como requisito para aprovação na disciplina Leitura do Texto Literário, ministrada pela profa. Dra. Jeane de Cássia de Nascimento Santos, membro do mestrado Profissional em Letras, Campus Prof. Alberto Carvalho – Itabaiana/SE.

A proposta de oficina de leitura partiu dos estudos teóricos de Cosson (2016) quanto à realização de atividades nas aulas de Língua Portuguesa que envolvessem a leitura dentro da perspectiva do letramento literário. Foi organizada uma proposta de sequência didática com base nas características do gênero literário poema e da temática abordada na obra “Chapeuzinho Amarelo” escrita por Chico Buarque.

Nesse sentido, a atividade busca articular a leitura do livro impresso, atividades de escrita e os recursos tecnológicos como computador, internet e site de compartilhamento de vídeos (youtube). Considera-se que a ação docente precisa ressignificar seu fazer pedagógico, inserindo as novas tecnologias no cotidiano da sala de aula, uma vez que os alunos já as utilizam como ferramentas de construção de conhecimento em diferentes espaços sociais.

Objetivos gerais:

Apresentar a poesia como gênero literário, destacando suas características e possibilidades de uso na sala de aula para a discussão de diferentes temáticas abordadas em enfoques interdisciplinar, bem como discutir a obra: Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque quanto aos sentimentos de medo e não-medo que permeiam a obra.

Objetivos específicos:       

  • Estimular o desenvolvimento da competência leitora do aluno a partir da produção do gênero literário – poesia;
  • Instigar a participação crítica do aluno;
  • Debater sobre os estados emocionais que fazem parte do universo infantil;
  • Compreender a poesia como gênero literário possível de discutir diferentes temáticas presentes no cotidiano do aluno.

Gênero: Poesia

Tema: O medo que permeia o universo infantil

Público-alvo: Alunos do 3º ano do ensino fundamental

Recursos utilizados: Computador, internet, site de compartilhamento de vídeos (youtube), papel madeira, papel A4, lousa, marcador de quadro branco, lápis grafite, lápis de cor, borracha e cola.

  1. MOTIVAÇÃO

1ª aula – (50 minutos)

Será realizada a adaptação da atividade “Relógio” proposta por Cosson (2016). Inicialmente, o professor dividirá a turma em dois grupos. Pedirá para os alunos criarem uma personagem que será a protagonista de um conto produzido por eles em sala de aula. A produção literária será uma releitura do conto “Fita verde no cabelo” de Guimarães Rosa. O primeiro grupo será responsável em informar o que a personagem tem medo e o segundo, o que não tem medo. Em seguida, o professor explicará que o seu braço direito significa o ponteiro dos minutos e, aleatoriamente, apontará para um aluno do primeiro grupo para que informe um medo da personagem. O braço esquerdo representa o ponteiro das horas e o apontará para um dos alunos do segundo grupo para que informe algo que a personagem não tem medo. Serão apresentadas imagens para auxiliar na construção da narrativa.

 

A atividade será finalizada com a construção de uma tabela feita em papel madeira, apresentando aquilo que a personagem tem e não tem medo. A atividade propõe que o aluno verifique as semelhanças e as diferenças entre o texto criado pela turma e o poema “Chapeuzinho Amarelo”. A tabela será fixada na parede da sala.

  1. INTRODUÇÃO

2ª aula – (50 minutos)

Será apresentada a obra “Chapeuzinho Amarelo” escrita por Chico Buarque. Inicialmente, o professor mostrará a capa, o título, as cores das ilustrações e um pouco sobre o autor e o ilustrador. Em seguida, cada aluno poderá manusear o livro antes de iniciar a leitura.

4

III. LEITURA

3ª aula – (50 minutos)

O poema será recitado em voz alta pelo professor. Após a leitura da parte que expõe os medos de Chapeuzinho Amarelo, será realizada uma roda de conversa norteada pelas seguintes perguntas:

– Você acha normal uma criança ter medo de tudo?

– O que você achou da postura de Chapeuzinho Amarelo quando encontrou o lobo? O que você faria?

– Você tem medo de alguém ou de alguma coisa?

– Você já conversou com alguém sobre suas dificuldades em vencer seus medos?

– Seus pais ou outro familiar já conversou com você sobre esse assunto?

– Você acha que pode vencer seus medos? Como?

Em seguida, a turma assistirá ao vídeo da música “Quem tem medo” de Marcelo Serralva. Link do vídeo: https://youtu.be/Cm8j6JlgySY

  1. INTERPRETAÇÃO

4ª aula – (50 minutos)

Será realizada a leitura do final do poema. Em seguida, serão propostas as atividades “Laços de palavras” e “Varal poético” de Cosson (2016). Inicialmente, o professor selecionará palavras que rimam. Tais palavras serão escritas em pedaços de papel e distribuídas aos alunos. Depois, os alunos escreverão frases e deixarão as palavras que rimam no final de cada frase. A turma organizará as sentenças para formar um poema que será exposto no varal da sala.

Referência bibliográfica

COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2012.139p.