SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO CONTO: “A DOIDA” DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS PROF. ALBERTO CARVALHO

Programa De Pós-Graduação em Letras Profissional em Rede (PPLP)

Unidade Itabaiana

NICE VÂNIA MACHADO RODRIGUES VALADARES

SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO CONTO: “A DOIDA” DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

 

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Apresentação

            A leitura é um meio importante para comunicação entre pessoas, promove e dissemina o conhecimento. Segundo Fisher (2005), “a leitura sempre foi diferente da escrita. A escrita prioriza o som, uma vez que a palavra falada deve ser transformada ou desmembrada em sinais representativos. A leitura, no entanto, prioriza o significado. A aptidão para ler, na verdade, pouco tem a ver com a habilidade de escrever. (FISCHER, 2005, p. 09).

            O Conto, de acordo com o que afirma Fiorussi (2003) é:

[…]uma narrativa curta. Não faz rodeios: vai direto ao assunto. No conto tudo importa: cada palavra é uma pista. Em uma descrição, informações valiosas; cada adjetivo é insubstituível; cada vírgula, cada ponto, cada espaço – tudo está cheio de significado. […]. (FIORUSSI, 2003 p.103).

Segundo Soares, o conto aparece como um episódio singular e representativo:

Ao invés de representar o desenvolvimento ou o corte na vida das personagens, visando a abarcar a totalidade, o conto aparece como uma amostragem, como um flagrante ou instantâneo, pelo que vemos registrado literariamente um episódio singular e representativo. (SOARES, 1993, p. 54).

Objetivo Geral:

            Estimular o aluno à leitura de contos como uma atividade prazerosa, e como consequência, desenvolver a habilidade interpretativa e crítica dos alunos.

Objetivos Específicos:

            Incentivar a leitura de contos de forma prazerosa;

Desenvolver a habilidade de interpretar e relacionar o conto com a realidade do aluno;

Promover a produção de vídeo baseado na história abordada no conto;

Trabalhar a interpretação do texto, utilizando uma atividade lúdica, que é o QUIZ;

Estimular a imaginação e desenvolver a habilidade de redigir do aluno, por meio da criação de um final diferente para o conto abordado;

Trabalhar a habilidade motora do aluno, por meio da produção de um desenho, que mostre a parte que mais chamou a atenção dele.

Gênero: Conto.

Tema: “A Doida” de Carlos Drummond de Andrade.

Público-Alvo: 8° ano (Ensino Fundamental Maior).

Número de aulas: 10 (50 minutos cada).

Recursos Utilizados: Lousa, marcador, TV, espelho, vídeos, computador, impressora, cartazes, caneta, lápis, pen-drive e folhas A4.

  1. MOTIVAÇÃO

Nesta etapa (primeira aula), dar-se-á início à aula por meio da exposição de cartazes mostrando imagens de pessoas que são felizes, apesar de suas deficiências, sejam elas físicas ou mentais. A partir dessa exposição, o professor deverá iniciar um debate sobre os diferentes tipos de deficiências, o preconceito e a exclusão social. O objetivo é mostrar aos alunos que somos diferentes, que podemos ter algum tipo de deficiência, e mesmo assim, somos capazes de ser felizes. Para isso, faz-se necessário superarmos medos e preconceitos para enfrentar os desafios que são impostos a nós. Superação é a palavra-chave para alcançarmos o sucesso. Após esse debate o professor deverá exibir um vídeo presente no Youtube de pessoas que superaram os desafios e alcançaram o sucesso, independentemente de suas dificuldades e deficiências. E finalmente, eles ouvirão a música: “Pra ser feliz”, do cantor Daniel, também presente no Youtube. O vídeo e a música serão exibidos através de uma TV.

O professor passará um espelho para a turma e pedirá que eles se olhem atentamente através do espelho. Após isso, fará os seguintes questionamentos:

  • O que vocês vêem no espelho?
  • Você é igual aos seus colegas de turma?
  • A diferença é notada nesse ambiente escolar?
  • O ser humano é diferente?
  • Por que as pessoas não respeitam as diferenças, já que somos indivíduos diferentes?
  • É importante convivermos com a diferença e aprender a respeitá-la?
  • Quais são os principais tipos de deficiência?
  • Pessoas que possuem algum tipo de deficiência física ou mental devem ser excluídas da sociedade? Como as pessoas atualmente se comportam diante dessa situação? A exclusão de fato existe?
  • O que vocês entendem por preconceito étnico-racial e gênero? Existe algum tipo de discriminação social diante de tais diferenças?

Vejamos exemplos de algumas imagens que podem ser mostradas aos alunos por meio de cartazes. As imagens abaixo mostram que os deficientes independentemente de suas deficiências podem ser felizes, podem superar desafios, logo, eles merecem respeito e a sociedade precisa acabar com o preconceito que ainda persiste.

Essas imagens foram extraídas do site: https://www.google.com.br/search?q=deficientes+felizes.

O vídeo que expõe a superação de um deficiente físico está presente no site:

O vídeo da música de Daniel: “Pra ser Feliz” está no seguinte site:

  1. INTRODUÇÃO

Na segunda e terceira aulas, o professor entregará o conto aos alunos, sem o final da história, a fim de que eles façam a leitura e criem um final diferente. Eles vão redigir o final dessa história e posteriormente ler para a turma. Essa atividade estimulará a imaginação e desenvolverá a capacidade de raciocínio e coerência textual, uma vez que, eles produzirão o final espelhado em sua vivência.

  1. LEITURA

Na quinta aula, o aluno fará uma leitura minuciosa, atentando-se ao texto de forma cuidadosa e assistirá a um vídeo curta-metragem, extraído do Youtube, produzido por alunos de outra unidade escolar. A exposição desse curta os ajudará a entender e memorizar os fatos mais importantes da história, com uma maior riqueza de detalhes.

O vídeo está presente no seguinte site: https://www.youtube.com/watch?v=p9cuaVA7wzw.

Na sexta aula, o professor poderá solicitar aos alunos que produzam também um vídeo abordando os aspectos mais importantes da história. Seria uma dramatização, um curta-metragem, simulando a história aprendida durante as aulas anteriores.

  • INTERPRETAÇÃO

Na sétima aula, eles seriam submetidos a um QUIZ para testar os conhecimentos aprendidos e intensificar a capacidade interpretativa deles. Esse QUIZ será feito da seguinte forma: a turma será dividida em grupos de quatro ou cinco pessoas. As perguntas serão baseadas em interpretações a respeito do Conto. Essa atividade visa aferir o nível e a capacidade interpretativa do aluno após a leitura do Conto. Ao final dessa atividade, o professor tecerá comentários a respeito do Conto, interpretando-o, para que a aprendizagem do aluno se sedimente de forma adequada e que ele tenha acesso a uma interpretação mais coerente com o texto.

Na oitava e nona aulas, serão exibidos os vídeos que foram produzidos pelos alunos e feito um debate expondo a opinião deles a respeito do Conto, abordando as problemáticas sociais que podem ser extraídas do Conto, como: a exclusão social de pessoas com problemas mentais, o preconceito social, a maldade infantil, o abandono familiar, a velhice e a solidão. Esse debate é riquíssimo, pois desenvolve no aluno a noção de respeito, solidariedade e humanismo.

Na décima aula, como forma de descontração, o professor solicitará aos alunos que desenhem uma parte da história que mais os chamou atenção e apresentem aos colegas, justificando o motivo da escolha. Essa atividade desenvolve a imaginação, criatividade artística e a habilidade motora do aluno.

ANEXOS

  1. CONTO: “A DOIDA” DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à esquerda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo silêncio, o burro pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la?

Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandade. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim. Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado, numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera.

Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto (contava mais de 60 anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavravam o corpo). Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento, uma festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus sabe por que razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do bate-boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se viram. Já outros contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o velho sentira um amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a morrer – mas nos racontos antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as pessoas grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passou a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de irrisão.

Vinte anos de tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a idéia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso.

Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro que porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus doidos; quase que toda família os tem. Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem Deus quis que ficasse doido… Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem.

Os três verificaram que quase não dava mais gosto apedrejar a casa. As vidraças partidas não se recompunham mais. A pedra batia no caixilho ou ia aninhar-se lá dentro, para voltar com palavras iradas. Ainda haveria louça por destruir, espelho, vaso intato? Em todo caso, o mais velho comandou, e os outros obedeceram na forma do sagrado costume. Pegaram calhaus lisos, de ferro, tomaram posição. Cada um jogaria por sua vez, com intervalos para observar o resultado. O chefe reservou-se um objetivo ambicioso: a chaminé.

O projétil bateu no canudo de folha-de-flandres enegrecido – blem – e veio espatifar uma telha, com estrondo. Um bem-te-vi assustado fugiu da mangueira próxima. A doida, porém, parecia não ter percebido a agressão, a casa não reagia. Então o do meio vibrou um golpe na primeira janela. Bam! Tinha atingido uma lata, e a onda de som propagou-se lá dentro; o menino sentiu-se recompensado. Esperaram um pouco, para ouvir os gritos. As paredes descascadas, sob as trepadeiras e a hera da grade, as janelas abertas e vazias, o jardim de cravo e mato, era tudo a mesma paz.

Aí o terceiro do grupo, em seus 11 anos, sentiu-se cheio de coragem e resolveu invadir o jardim. Não só podia atirar mais de perto na outra janela, como até, praticar outras e maiores façanhas. Os companheiros, desapontados com a falta do espetáculo cotidiano, não, queriam segui-lo. E o chefe, fazendo valer sua autoridade, tinha pressa em chegar ao campo.

O garoto empurrou o portão: abriu-se. Então, não vivia trancado? …E ninguém ainda fizera a experiência. Era o primeiro a penetrar no jardim, e pisava firme, posto que cauteloso. Os amigos chamavam-no, impacientes. Mas entrar em terreno proibido é tão excitante que o apelo perdia toda a significação. Pisar um chão pela primeira vez; e chão inimigo. Curioso como o jardim se parecia com qualquer um; apenas era mais selvagem, e o melão-de-são-caetano se enredava entre as violetas, as roseiras pediam poda, o canteiro de cravinas afogava-se em erva. Lá estava, quentando sol, a mesma lagartixa de todos os jardins, cabecinha móbil e suspicaz. O menino pensou primeiro em matar a lagartixa e depois em atacar a janela. Chegou perto do animal, que correu. Na perseguição, foi parar rente do chalé, junto à cancelinha azul (tinha sido azul) que fechava a varanda da frente. Era um ponto que não se via da rua, coberto como estava pela massa de folha gemo A cancela apodrecera, o soalho da varanda tinha buracos, a parede, outrora pintada de rosa e azul, abria-se em reboco, e no chão uma farinha de caliça denunciava o estrago das pedras, que a louca desistira de reparar.

A lagartixa salvara-se, metida em recantos só dela sabidos, e o garoto galgou os dois degraus, empurrou cancela, entrou. Tinha a pedra na mão, mas já não era necessária; jogou-a fora. Tudo tão fácil, que até ia perdendo o senso da precaução. Recuou um pouco e olhou para a rua: os companheiros tinham sumido. Ou estavam mesmo com muita pressa, ou queriam ver até aonde iria a coragem dele, sozinho em casa da doida. Tomar café com a doida. Jantar em casa da doida. Mas estaria a doida?

A princípio não distinguiu bem, debruçado à janela, a matéria confusa do interior. Os olhos estavam cheios de claridade, mas afinal se acomodaram, e viu a sala, completamente vazia e esburacada, com um corredorzinho no fundo, e no fundo do corredorzinho uma caçarola no chão, e a pedra que o companheiro jogará.

Passou a outra janela e viu o mesmo abandono, a mesma nudez. Mas aquele quarto dava para outro cômodo, com a porta cerrada. Atrás da porta devia estar a doida, que inexplicavelmente não se mexia, para enfrentar o inimigo. E o menino saltou o peitoril, pisou indagador no soalho gretado, que cedia.

A porta dos fundos cedeu igualmente à pressão leve, entreabrindo-se numa faixa estreita que mal dava passagem a um corpo magro.

No outro cômodo a penumbra era mais espessa parecia muito povoada. Difícil identificar imediatamente as formas que ali se acumulavam. O tato descobriu uma coisa redonda e lisa, a curva de uma cantoneira. O fio de luz coado do jardim acusou a presença de vidros e espelhos. Seguramente cadeiras. Sobre uma mesa grande pairavam um amplo guarda-comida, uma mesinha de toalete mais algumas cadeiras empilhadas, um abajur de renda e várias caixas de papelão. Encostado à mesa, um piano também soterrado sob a pilha de embrulhos e caixas. Seguia-se um guarda-roupa de proporções majestosas, tendo ao alto dois quadros virados para a parede, um baú e mais pacotes. Junto à única janela, olhando para o morro, e tapando pela metade a cortina que a obscurecia, outro armário. Os móveis enganchavam-se uns nos outros, subiam ao teto. A casa tinha se espremido ali, fugindo à perseguição de 40 anos.

O menino foi abrindo caminho entre pernas e braços de móveis, contorna aqui, esbarra mais adiante. O quarto era pequeno e cabia tanta coisa.

Atrás da massa do piano, encurralada a um canto, estava a cama. E nela, busto soerguido, a doida esticava o rosto para a frente, na investigação do rumor insólito. Não adiantava ao menino querer fugir ou esconder-se. E ele estava determinado a conhecer tudo daquela casa. De resto, a doida não deu nenhum sinal de guerra. Apenas levantou as mãos à altura dos olhos, como para protegê-los de uma pedrada.

Ele encarava-a, com interesse. Era simplesmente uma velha, jogada num catre preto de solteiro, atrás de uma barricada de móveis. E que pequenininha! O corpo sob a coberta formava uma elevação minúscula. Miúda, escura, desse sujo que o tempo deposita na pele, manchando-a. E parecia ter medo.

Mas os dedos desceram um pouco, e os pequenos olhos amarelados encararam por sua vez o intruso com atenção voraz, desceram às suas mãos vazias, tornaram a subir ao rosto infantil.

A criança sorriu, de desaponto, sem saber o que fizesse.

Então a doida ergueu-se um pouco mais, firmando-se nos cotovelos. A boca remexeu, deixou passar um som vago e tímido.

Como a criança não se movesse, o som indistinto se esboçou outra vez. Ele teve a impressão de que não era xingamento, parecia antes um chamado. Sentiu-se atraído para a doida, e todo desejo de maltratá-la se dissipou. Era um apelo, sim, e os dedos, movendo-se canhestramente, o confirmavam.

O menino aproximou-se, e o mesmo jeito da boca insistia em soltar a mesma palavra curta, que, entretanto, não tomava forma. Ou seria um bater automático de queixo, produzindo um som sem qualquer significação?

Talvez pedisse água. A moringa estava no criado – mudo, entre vidros e papéis. Ele encheu o copo pela metade, estendeu-o. A doida parecia aprovar com a cabeça, e suas mãos queriam segurar sozinhas, mas foi preciso que o menino a ajudasse a beber.

Fazia tudo naturalmente, e nem se lembrava mais por que entrara ali, nem conservava qualquer espécie de aversão pela doida. A própria idéia de doida desaparecera. Havia no quarto uma velha com sede, e que talvez estivesse morrendo.

Nunca vira ninguém morrer, os pais o afastavam se havia em casa um agonizante. Mas deve ser assim que as pessoas morrem.

Um sentimento de responsabilidade apoderou-se dele. Desajeitadamente, procurou fazer com que a cabeça repousasse sobre o travesseiro. Os músculos rígidos da mulher não o ajudavam. Teve que abraçar-lhe os ombros – com repugnância – e conseguiu, afinal, deitá-la em posição suave.

Mas a boca deixava passar ainda o mesmo ruído obscuro, que fazia crescer as veias do pescoço, inutilmente. Água não podia ser, talvez remédio…

Passou-lhe um a um, diante dos olhos, os frasquinhos do criado-mudo. Sem receber qualquer sinal de aquiescência. Ficou perplexo, irresoluto. Seria caso talvez de chamar alguém, avisar o farmacêutico mais próximo, ou ir à procura do médico, que morava longe. Mas hesitava em deixar a mulher sozinha na casa aberta e exposta a pedradas. E tinha medo de que ela morresse em completo abandono, como ninguém no mundo deve morrer, e isso ele sabia que não apenas porque sua mãe o repetisse sempre, senão também porque muitas vezes, acordando no escuro, ficara gelado por não sentir o calor do corpo do irmão e seu bafo protetor.

Foi tropeçando nos móveis, arrastou com esforço o pesado armário da janela, desembaraçou a cortina, e a luz invadiu o depósito onde a mulher morria. Com o ar fino veio uma decisão. Não deixaria a mulher para chamar ninguém. Sabia que não poderia fazer nada para ajudá-la, a não ser sentar-se à beira da cama, pegar-lhe nas mãos e esperar o que ia acontecer.

  1. PERGUNTAS DO QUIZ
  2. Descreva qual era o hábito dos moleques da cidade em relação A Doida?

O hábito era provocar a doida jogando pedras na casa dela.

  1. Quais são as duas versões contadas pela população em relação à vida da Doida?

Uma versão é que ela era noiva de um fazendeiro, mas na noite de núpcias o homem a repudiara. A outra versão é que o pai a expulsara porque sentira um amargo diferente no café e como era muito rico ficou com medo que a filha o envenenasse para pegar o dinheiro dele.

  1. O que aconteceu com A Doida após ela se fechar no chalé localizado no caminho do córrego?

Ela perdeu o juízo e a relação com as pessoas.

  1. Quais eram as expressões de castigo ou zombaria utilizadas pelas pessoas da cidade onde A Doida morava?

Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida.

  1. Porque as pessoas da cidade ou familiares não internavam A Doida em um local apropriado?

O hospício era longe, os parentes não se interessavam.

  1. Qual era a justificativa utilizada pela população da cidade quando chegava um forasteiro que por ventura estranhasse a situação?

Toda cidade tem seus doidos; quase que toda família os tem.

  1. Após a tentativa de jogar pedras na chaminé não ter dado nenhum resultado o que aconteceu com os meninos?

Um menino de 11 anos resolveu invadir o jardim e os demais foram embora.

  1. Após invadir a casa da Doida relate o que aconteceu com o menino e a dona da casa?

O menino encontrou a Doida na cama e ela a princípio parecia sentir medo. O menino não quis mais maltratá-la ao vê-la naquelas condições. Ela parecia fazer um apelo. Ele logo imaginou que ela quisesse água, ele pegou a água e entregou para ela, porém ela não conseguiu beber sozinha. Então ele a ajudou.

  1. Após contato com a mulher relate qual sentimento apoderou-se do menino?

Um sentimento de responsabilidade. Por fim, o menino após ajudar a mulher não a deixaria para chamar ajuda, pois julgava que ela estava morrendo e não havia mais nada para fazer por ela, apenas sentar-se à beira da cama, pegar-lhe nas mãos e esperar o que ia acontecer.

  1. MÚSICA: PRA SER FELIZ

DANIEL

Às vezes é mais fácil reclamar da sorte

Do que na adversidade ser mais forte

Querer subir sem batalhar

Pedir carinho sem se dar

Sem olhar do lado

Já imaginou de onde vem

A luz de um cego

Já cogitou descer

De cima do seu ego

Tem tanta gente por aí

Na exclusão e ainda sorri

Tenho me perguntado

Pra ser feliz

Do que o ser humano necessita?

O que é que faz a vida ser bonita?

A resposta, onde é que está escrita?

Pra ser feliz

O quanto de dinheiro eu preciso

Como é que se conquista o paraíso

Quanto custa

Pro verdadeiro sorriso

Brotar do coração

Talvez a chave seja a simplicidade

Talvez prestar mais atenção na realidade

Porque não ver como lição

O exemplo de superação

De tantas pessoas

O tudo às vezes se confunde com o nada

No sobe e desce da misteriosa escada

E não tem como calcular

Não é possível planejar

Não é estratégico

Pra ser feliz

Do que o ser humano necessita?

O que é que faz a vida ser bonita?

A resposta, onde é que está escrita?

Pra ser feliz

O quanto de dinheiro eu preciso

Como é que se conquista o paraíso

Quanto custa

Pro verdadeiro sorriso

Brotar do coração.

REFERÊNCIAS

FISCHER, S. R. História da leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2006

SOARES, A. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1993.

MAGALHÃES JÚNIOR, R. A arte do conto: sua história, seus gêneros, sua técnica, seus mestres. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1972.

http://www.acessaber.com.br

https://www.letras.mus.br/daniel/1964931/

Vídeos e imagens disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p9cuaVA7wzw

https://www.google.com.br/search?q=deficientes+felizes.

https://www.youtube.com/watch?v=TpATSYbyjBE